29 de abril de 2009

O PERMANENTE E O PROVISÓRIO

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O casamento é permanente, o namoro é provisório. O amor é permanente, a paixão é provisória. Uma profissão é permanente, um emprego é provisório. Um endereço é permanente, uma estada é provisória. A arte é permanente, a tendência é provisória. De acordo? Nem eu.
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Um casamento que dura 20 anos é provisório. Não somos repetições de nós mesmos, a cada instante somos surpreendidos por novos pensamentos que nos chegam através da leitura, do cinema, da meditação. O que eu fui ontem, anteontem, já é memória. Escada vencida degrau por degrau, mas o que eu sou neste momento é o que conta, minhas decisões valem pra agora, hoje é o meu dia, nenhum outro. Amor permanente... como a gente se agarra nesta ilusão. Pois se nem o amor pela gente mesmo resiste tanto tempo sem umas reavaliações. Por isso nos transformamos, temos sede de aprender, de nos melhorar, de deixar pra trás nossos imensuráveis erros, nossos achaques, nossos preconceitos, tudo o que fizemos achando que era certo e hoje condenamos. O amor se infiltra dentro da nós, mas seguem todos em movimento: você, o amor da sua vida e o que vocês sentem. Tudo pulsando independentemente, e passíveis de se desgarrar um do outro. Um endereço não é pra sempre, uma profissão pode ser jogada pela janela, a amizade é fortíssima até encontrar uma desilusão ainda mais forte, a arte passa por ciclos, e se tudo isso é soberano e tem valor supremo, é porque hoje acreditamos nisso, hoje somos superiores ao passado e ao futuro, agora é que nossa crença se estabiliza, a necessidade se manifesta, a vontade se impõe – até que o tempo vire.
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Faço menos planos e cultivo menos recordações. Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço. Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve, alcanço seus limites com as mãos, é nele que me instalo e vivo com a integridade possível. Canso menos, me divirto mais, e não perco a fé por constatar o óbvio:
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Tudo é provisório, inclusive nós.


Martha Medeiros
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DA LARANJA QUERO "SOMENTE" UM GOMO!

A espera é algo que serve de dosador da ansiedade humana. Quanto maior o período em que se aguarda, mais se aprende a não contar com o que está por vir. E um dia, o tão aguardado fato de outrora, torna-se uma vaga sugestão de acontecimento. Em caso de estar nas mãos de outra pessoa, ter de esperar que outro realize um evento que mudará a sua vida, aí então é que aguardar toma forma de nuvem. Em dia de sol forte, ela desaparece e não é possível lembrar que ela existe. Quando a chuva cai impacientemente, a nuvem a encontra de galochas, capa e guarda-chuva. Imperturbável e acostumada a não ter o que, um dia, teria sido a coisa mais importante da vida.

Na verdade da laranja quero "Somente" um gomo e do limão Nenhum pedaço.
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Estou azeda!
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Não quero ser metade da laranja de ninguém.
Que coisa mais sem graça!
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De fato estou Azeda.
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Vou demorar para escrever, aff.
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Minhas Vogais e Consoantes são Altamente Inflamáveis e Ardidas