28 de fevereiro de 2010

MENINA

Nunca consegui engolir a finitude de quem amo. Nunca sonhei com minha imortalidade. No entanto, meu amor, nosso amor pelas pessoas, deveria ter o poder de lacrá-las em um manto de proteção e vida eterna verdadeira.

Me lembrei da morte dos meus avós... Aquele ritual da perda, da dor, do velar. Perdi-me naquelas imagens, de quando perambulei pelos túmulos discretos, lápides pequenas, nomes, datas de nascimento, de morte, fotografias antigas, outras novas, flores, muitas flores. Até que achamos. E nos fizemos em silêncio.

Mesmo após esses anos, ainda me sufoca ver a falta que minha mãe sente de minha avó. É absurda. É tão visível que sinto junto a minha saudade e a dela, entrelaçadas, engasgando garganta adentro, apertando o peito com vontade. E, me colocando no lugar dela, sofri de pensar de um dia ter que suportar a perda daqueles que me colocaram nesse mundo.

Alguns dias com eles - coisa constante, mesmo nesta correria, nessa distância nem tão "distante", nessa falta de tempo – no meu mundo, em minha casa, sempre a postos. E ao voltar há pouco, me bateu um sentimento sufocante de não tê-los mais aqui comigo.

Uma saudade prematura e quase infantil perturbando minha praticidade de quem mora sozinha. 


Hoje vou dormir menina.


AMIGO É COISA PARA SE GUARDAR...

Onde a gente bem entender!


...prontofalei, tofalandooo



Amizade é uma coisa rara. Não segue regras, não há preferências, não escolhe endereço. Também não tem idade. Posso ser muito amiga de uma pessoa que conheço há 20 anos. Mas não são os anos que determinam a qualidade de uma amizade, porque conheço outras há mais tempo que definitivamente não é a mesma coisa. Amizade é construção, sim, os anos de convivência valem pontos, mas o “timing” tem que estar lá como anos atrás. Assim como a sintonia que nos faz nos sentir à vontade para confessar bobagens, para se desarmar diante do amigo.

Amizade forçada não existe. Aquelas pessoas que fazem de tudo pra serem suas amigas, para que você confie nelas. Não acredito. Essas coisas repentinas: do nada aparece alguém te fazendo mil elogios. É batata: é roubada.

Minha falta de paciência com gente que concorda com tudo o que digo é justamente essa ponta de desconfiança. E sigo acreditando que quem gosta de tudo não gosta é de nada. Não adianta se mostrar com maturidade para alguém mais velho, que gosta de cinema para um cinéfilo, que entende de vinhos para um enólogo. Um dia a máscara cai e o ridículo não é o fracasso da tentativa de conquista, mas de se perceber uma pessoa sem personalidade, mesmo acreditando tê-la.

Amizade não precisa de provas, não precisa de alarde. Passei anos pra dizer “eu te amo” para meus melhores amigos. E o bom de tudo é que, mesmo antes disso, eles já sabiam.

O BICHO

(Foto: J.P Marins)


"Quem vem contar-me uma história
Dos meus tempos de menina?
Quando eu era pequenina,
A minha ama contava
Aquela história em que entrava
Uma menina e um papão.
Eu, ao ouvi-la, chorava.

A fábula é outra agora:
A menina já não chora
NO MEIO DA ESCURIDÃO.
QUEM TEM MEDO É O PAPÃO."
in, Rio de Nuvens (Natália Correia)





Quando li este poeminha, me deu uma vontade de escrever, quis falar também do bicho papão...
 
 
(Foto: Luis Pais) 

O bicho.

O amor perde-se em palavras. Por isso prefiro o silêncio. O amor se destrói com o descaso. Por isso, mergulho de cabeça. O amor transmuta-se sem o apelo do desejo. Por isso busco por prazer. O amor cansa quando vivemos só o outro. Por isso nunca deixo meus amigos.

Nunca gostei de regras. Mas, sem querer, me vejo com elas, minhas mesmo, guiando sorrateiramente meus passos. Então, me dando conta, dispenso todas elas; variavelmente, alternando, brincando, arriscando minha face. Nada disso me determina de maneira linear, fixa. Nem minha idade, sexo, nacionalidade, grupo social. Quem determina é ele. O amor.

Mas se é verdade que lhe dou tanta bola, também posso dizer que, morto, já não me serve no corpo, no peito, como se fosse feito sob medida como antes, bem antes, deixando-me leve, radiante. Ao contrário, me constrange, me inibe. Entristece-me, até, por suas mutações dentro de mim. O amor morto transforma-se em um alienígena, um estranho, algo fora do lugar. O amor é bicho papão!

O amor assusta. Até quando não existe mais...

19 de fevereiro de 2010

DAQUELE JEITO


O bom humor também tira férias.

Há momentos que o único pensamento é deixar tudo pra lá e zerar a vida. Zero quilômetro. Começo a partir daqui. Ausência de passado, de decisões passadas. De sentimentos já expostos. De fotografias tiradas. Nunca dei aquele abraço. Nem fiz aquela viagem.
(Mentira, dei o abraço sim! Mas não liga, estou daquele jeito.)

Para alguém que nunca teve grandes arrependimentos, estou me saindo uma bela covarde.

Às vezes a coragem pede trégua.
Me falta disposição pra provar o contrário.

12 de fevereiro de 2010

PARA TE COMER MELHOR: PEÇA - PELO CANO






Assisti no espaço cênico do Centro Cultural
a peça "Pelo Cano", Texto, direção e elenco:
Vera Abbud e Paola Musatti
Elas Produzem, dirigem e atuam:
Paguei para  ver e vi...

Apaixonante e muito engraçado!
Foi bom!!!

9 de fevereiro de 2010

LUCIDEZ SILENCIOSA

Hoje, sai para fora, isso mesmo "saiparafora", estou recorrendo ao pleonasmo vicioso sim, que mal há na redundância proposital?!

Peguei meu carro, sai de mim, ou entrei em mim, não sei qual foi a ordem, então digo somente que sai pela saída... fui pela Airton Senna, desembestei e fui á cento e vinte por hora, livre e solta, algumas ruas pequenas de acesso em Guarulhos, depois estradaaaaaa...


Tudo isso ao som de Queensryche - Silent Lucidity, música latente e suave... e eu cantando, cantando... e chorando, num mix como a caixa de Pandora, miscelânia ardida com a balada triste que dizia:

"Your mind tricked you to feel the pain
Of someone close to you leaving the game of life 
So here it is, another chance
Wide awake you face the day "


Puramente real, minha mente me enganou para que eu sentisse sofrimento, espertinha hein? acertou... quando eubotar as minhas mãos em mim, nem sei o que farei.


Parei de querer achar, que posso me boicotar, canto em silêncioooo...

"It's a place where you will learn
To face your fears, retrace the years"



Melodia belíssima, doídaaaaa e o gosto de sal na boca...

"I will be watching over you
I am gonna help you see it through
I will protect you in the night
I am smiling next to you, in Silent Lucidity"



Mas sorria e continuava a cantar!



Despertei...




Fotos retorcidas e desfocadas foram sendo tiradas, como se dizia antigamente, roubei almas...
Engraçado né?

Pegar aquele momento, o exato momento e prontocapturar a psy·khé!


Dirigia e capturava (...)

Fotos: by Kate Reis

Pensamentos soltos...

 tinham formas

nem o sinal vermelho, interrompeu... Não parei, sonhei


MY dream is over... or has it just begun?


tão real


duvido e faço pouco se ela estava preocupada com a água parada deste pneu


olhava tudo, tudo tinha movimento


chuva rápida se formou


trânsito, só aumentando o som mesmo, a vida é tão urgente... e eu parada


multicolorido


destorcida, estava a 80 km


pressa nem sei do quê?


na placa "boas noites"





P.S.: para ver as fotos em tamanho original, bastaUMclique






Repeti a música por muitas  VEZES...  é bom olhar para dentro e por dentro... repetidas vezes!!!

5 de fevereiro de 2010

AZAR?


Dá até medo de escrever essa palavra.
Vai que ela resolva grudar em mim, né?

Hoje eu vi uns caras consertando alguma coisa em cima de um poste e lá estavam eles, pendurados naquele instrumento comprido e duvidoso chamado escada - bem ao lado do meu carro, de forma que eu teria a opção de passar por baixo dela ou dar a volta ao seu redor.

Bateu então a dúvida e uma fração de minha personalidade foi repensada: afinal, eu não sou mesmo supersticiosa? Será que nem um pouquinho?!

E só reforcei o que já sabia: "Não, nem um pouquinho, com toda certeza." Fui logo fazendo o percurso mais rápido por debaixo daquele aglomerado de pauzinhos (bem firmes, espero).

Não consigo ver numa escada indefesa, e até bastante funcional, sua capacidade de formular situações para que algo tão subjetivo como o azar entre em ação.

Na verdade, me perdoem, não fiz uma pesquisa sobre a superstição e sua origem, mas leigamente falando, digo que para mim, azar se atrai passando por baixo de outras coisas e vivendo próximo a situações mais negras que os gatos mais negros do mundo juntos.

Para pegar um atalho rumo ao azar, se esquive das responsabilidades, desvie de verdades dolorosas e fuja de si o tempo todo - não tem erro, praticamente uma receita de bolo!

É esnobando problemas que se mergulha completamente neles; é evitando a vida que se vive o mais doloroso dela.

Estamos imersos num misto de azar e sorte.

Ora feliz, posso dizer que sou sortuda, a maior do mundo.
Ora nefasta, me rendo ao azar e vivo tormentos.

A vida é uma cadeira de plástico curvilínea e escorregadia que nos obriga a vigiar nossas próprias posturas o tempo todo - que é pra não deslizar, pra não cair. E ninguém pode manter a postura ereta por mim. É sempre um jogo do eu sozinho. Sou sempre eu com as minhas costelas.

Podemos lamentar e rir juntos (o que é ótimo e vive de bem com a sorte), mas sempre serei responsável pela minha cadeira. E você pela sua.

O pobre do gato preto não tem nada a ver com nossas escolhas.

Aliás, ele é lindo, exótico, arisco. Um belo animal. (Tudo bem você deve estar estranhando, afinal, odeio gatos! Mas o fato é que são belos, lindos mesmo, oras bolas, eu o odeio - mais eles são uns gatooos)

Portanto, tome tento à sua cadeira, por favor!


Escrito numa terça feira treze, á ultima do ano de doismilenove.



PLURAL


Sou um átomo borbulhante
ínfimo, explosivo, gigante, mortal e brilhante


sou uma esquisitice humana
aberração, gritaria, sujeira, a calmaria de um mantra


Sou  beleza ao avesso
lotada de organização interna, veias fluídas e órgãos pulsantes


Sou a embalagem da coca
recheada de mentiras, sustentada por ilusões, de felicidades efêmeras


Sou o pranto do velório
um escape pras lamúrias, uma fuga da rotina, a tristeza passageira e profunda

 
Sou um milhão de eus
e em todos eles, sou apaixonada por ser quem eu quiser ser e por estar onde quiser estar...

4 de fevereiro de 2010

DEIXA

... O COPO ENCHER ATÉ A BORDA


Que eu quero um dia de sol num copo d'água.
(Renato Russo)


NAFITALINA


[Ao som de Tiê, A bailarina e o astronauta.]



Percebo que a melhor maneira de não remoer o passado é desdramatizar algumas recordações e deixá-las viver no meio de alegria e, quanto mais tristes forem, mais alegria lhes ofereço. Por vezes, rio mesmo às gargalhadas na cara delas e, em piruetas, deixo-as com ar admirado e incrédulo. Saio a fazer sarcásticas graças, apertando meu coração para não chorar…


Esta também sou eu! uma artista de circo, tentando não cair do arame que piso mais ou menos em tremeliques, sem noção da distância ao chão. Por exemplo, deveria já ter tomado o meu banho, ido ao super mercado comprar comidinha, fazer uma sopita, comer e, só então estar aqui a escrever, ou a estudar, ou a ler, a pesquisar, sei lá… Mas não! Estou sentada ao computador, com o pé esquerdo pousado na cadeira, a olhar o mundo lá fora, cinzento, esta sol até a pouco, agora chove, na verdade chove muito e vejo-o agradavelmente belo, a chuva é linda. Os pássaros voaram, estão com medo da chuva grossa que cai toda torta por que o vento se interpõe e a leva também... O trovão GRITA alto!

Entendo o passar do tempo na agonia da recordação. Certo é que não entendo algumas melancolias, mas não me atormento mais, e já faz tempo. Deixei de pensar...  guardo tudo isso em baús que à falta de odiadas fechaduras, encerro com pregos possíveis de arrancar.

Náusea é a palavra adequada. Não gosto de olhar para trás, mas algumas recordações lutam desmesuradamente pela atualidade e vão-se escapando para o futuro, onde me surpreendem e mal coloco o pezinho nele.

Então eu deixo!, vou fazer o quê?
Agarrar nelas embrulhá-las num cobertor e deitá-las ao mar, agarradas a uma pesada âncora?

Sentirei a mistura do desespero de ser esquecida e a alegria de ser lembrada, sempre no silencioso grito, como se nada se passasse, tudo estivesse bem. E estava! E esta...

Tudo se torna fácil de relembrar, porque não esquecido, apenas não gosto de rever certo filmes, outros… o tempo se encarrega de repassar.

Aos poucos, por entre a música que ouço, vestida de doces recordações com cheiro de  nafitalina, cheia de mim, criança, adolescente e adulta... no desejo de viajar incessantemente para dentro, em vórtice enfraquecido, regressarei ao hoje que tudo encerra, mas a sorrir.
 
Sempre a sorrir...

LOUCURA


Como me tornei louca?


Aconteceu assim: um dia, muito tempo antes
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas
as minhas máscaras tinham sido roubadas
- as sete máscaras que eu havia
confeccionado e usado em sete vidas -
e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando:

"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"


Homens e mulheres riram de mim e alguns
correram para casa, com medo de mim.


E quando cheguei à praça do mercado,
uma criança que tinha trepado ao telhado de uma casa gritou:

"É uma louca!".




Olhei para cima, para vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez a minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava a minha face nua,
e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais as minhas máscaras.

E, como num transe, gritei:
"Benditos, bendito os ladrões que
roubaram as minhas máscaras!"

Assim me tornei louca.

E encontrei tanta liberdade
como segurança na minha loucura:
a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendida,
pois aquele desigual que nos compreende escraviza alguma coisa em nós…

3 de fevereiro de 2010

LIMITAÇÕES ESTÉTICAS

                                                         Foto: Liaaaa, toda querida! Obrigada




- Você é feio, mas é legal.

E assim começou a noite de sábado. Com uma carga extra de sinceridade não ofensiva. Por mais espontâneo que fosse o meu veredicto, aquelas palavras já não tinham mais tanto peso. Não para ele, que aprendeu a rir da própria cara desde muito cedo. Voltou para casa de manhã, sozinho, como de costume (nestes últimos meses). Adormeceu abraçado com a sua feiúra. Talvez com medo de que alguém tentasse roubá-la. Não o culpo por tanto zelo, cuidado e proteção. Afinal, era tudo o que ele tinha.

AGUA DE ANNIQUE



Perdí um cd raro que eu passei anos procurando, que aliás, só fora lançado em outros países. "perdí, perdí!"

Aí eu choro, mas não choro pelo cd que se foi, choro por não saber cuidar direito das minhas coisas, por criar tamanha ligação com aquilo a ponto de pensar que andará atrás de mim por onde eu for, como se tivesse um imã, como se nunca mais fosse sair dalí, como se ninguém mais fosse pegar.

Choro pelo tamanho do meu azar e da minha desgraça. Perder minhas coisas por achar que elas estão presas a mim com cordas e, que nunca vão se soltar mesmo que eu ande por vales secos ou molhados ou corra ou puxe agressivamente.

Tão segura, achando que era só ir lá e comprar, passar dias ouvindo e depois deixar em cima da mesa, por..., era meu, o que mais eu poderia querer? Estava lá e nada ia tirar do lugar.

Errou Katezinha, de tanto ficar lá, vendo você passar sem se importar, ele criou vida própria repentinamente, criou pernas e saiu andando, dando um adeus sem volta.

Aí eu fico aqui, choro pela minha desgraça, por não saber guardar e cuidar do que é meu. Nunca soube talvez(...) Aí eu fico aqui, sem saber se vou ter coragem de comprar outro cd um dia, sem saber se vou ter aquele cd novamente, ele é muito raro, muito caro, talvez não...







"Era tão segura de sí, que a segurança se transformou em descontrole"

A FLECHA SEM ALVO


A mulherzinha sem definição, parece durona mas é manteiga derretida. Fácil fácil de levar "pro brejo". Chora discretamente, perua fingida. Se deslumbra fácil. Melhor não tratar bem, melhor não deixar a porta aberta, é presa que pula, desinteressante e carente. Melhor não brincar, ela vai levar a sério e provavelmente perder o controle. Ela sempre perde a linha. Deliciosamente tola, constante, impetuosa... Melhor não mexer em seu cabelo nem falar da sua anatomia. Ela vai pedir, vai implorar. Melhor não reparar no novo corte de cabelo, nem as unhas vermelhas prontas, menos ainda nas bochechas que ficam cor de rosa, num make provocantemente... estranho.

Não faça isso!

Ela dança com os lobos.
Ela dança com o fogo, ao som dos atabaques.
Ela dança com os espíritos e as ciganas.
Ela tem rezadeira e benzedeiras.
Melhor ter cuidado, melhor mentir, melhor fingir...
Melhor deixar ela se apaixonar sozinha.

"É melhor assim, é mais fácil."

Fácil de se levar, fácil de se deixar, fácil de se manter.




(...)





- seilá, foi o vinho, puro pilequinho, mebateaí?













 

2 de fevereiro de 2010

PARALELO


Ontem


1. Eu era: medrosa e insegura. (tinha um pavor de baratas e não temia gente).

2. Eu queria: que nada nunca mudasse (bobinha, se nada muda, nada acontece).

3. Eu tinha: um grupo de amigos inseparáveis.

4. Eu sabia: que um dia eu estaria numa universidade, rodeada de pessoas bacanas, me divertindo e estudando muito e que meu primeiro filho seria uma menina.
.
5. Eu adorava: passar as tardes de sábado assistindo Chacrinha.

6. Eu gargalhava: por qualquer motivo bobo, dava crises de riso.

7. Eu duvidava: de quase nada.

8. Eu escutava: todas as bandas dos anos oitenta, sabia todas as letras.

9. Eu viajava: nos meus livros.

10. Eu queria conhecer: Egito (preparava roteiros de visita a todos os pontos turísticos e todos os endereços interessantes de todo o oriente médio. Sem nunca ter saído do Brasil).

11. Eu vestia: jeans, camiseta e All Star.

12. Eu me assustava: com tudo que fosse, mesmo que um pouco, subversivo.

13. Eu esperava: chegar à idade adulta com tudo que eu via nos adultos: emprego, casa, namorado e estabilidade financeira.

14. Eu dizia: tudo para todos.
.
15. Eu bebia: coca-cola com gelo e limão e milkshake.

16. Eu sonhava beijar: o Ray do Menudo e também o MacGyver o tiozinho da séria Profissão Perigo, eu o amava.



Hoje

Até o modo de ver a mulher mudou, hoje o homem é evidênciado e não somos mais amélias.

1. Eu sou: menos medrosa. E mais segura. (ainda com pavor de baratas e um baita temor de gente ignorante). 

2. Eu quero: uma vida cheia de surpresas e mudanças.

3. Eu tenho: eu tenho o mesmo grupo de amigos inseparáveis e outros grupos de amigos inseparáveis que formei.

4. Eu sei: Fui á universidade e tenho quatro graduações, hoje quero uma pós, um mestrado e vou fazer doutorado. Tenho uma filha e ela é melhor do que eu imaginei.
.
5. Eu adoro: passar o fim de semana assistindo filmes, com coca, pipoca, bis branco e sorvete napolitano.
.
6. Eu gargalho: com ironias e humor sarcástico. E piadas internas.

7. Eu duvido: por precaução e por curiosidade.

8. Eu escuto: rock, mpb, ópera, bossa nova e qualquer coisa que meus ouvidos achem interessante e menos comercial.

9. Eu viajo: a qualquer momento, pra qualquer lugar, dependendo da ocasião e do trabalho em que estiver envolvida.

10.Eu quero conhecer: o resto do Brasil. E o Egito, na verdade todo o oriente médio, e conseguir utilizar os roteiros que eu fiz quando tinha 14 anos.

11. Eu visto: jeans, camiseta e All Star. Mas também visto vestidos e salto alto belíssimos.

12. Eu me assusto: hoje em dia, só SE me pregarem algum susto, do tipo: gritar no meu ouvido em um quarto escuro.

13. Eu espero: tudo e nada. Sonho para alcançar alguma realidade, qualquer uma.

14. Eu digo: para poucas pessoas, quase tudo...
.
15. Eu bebo: coca-cola com gelo e limão, milkshake de ovomaltine, vinho, caipirnha de saquê com morango ou kiwi, pina colada e espumante. Depende da ocasião.

16. Eu sonho beijar: gente muito mais real que o MacGyverd e outros galãs de Hollywood.

1 de fevereiro de 2010

HISTÓRIA


Você também sentiu dor e a sua dor também me dóiA, mas por ser sua do que por ser dor. E se eu disser de novo a palavras saudade vou estar abusando das letras. Não vivemos o que tínhamos para viver e essa sensação é bolo que não assou, é chuva que não choveu é latido sem som. Tivemos boa vontade, mas ditados já dizem que delas todo lugar está cheio e não somos pessoas de qualquer lugar. Temos os nossos. Isso podemos dizer que fizemos: construímos histórias em lugares, tantos deles, muitos deles, vários deles... Não paramos porque o movimento nos fazia amor e quando paramos o amor acabou. A nossa música ainda toca, eu tenho ela aqui. E lembro da primeira vez que você me disse três palavras juntas. Eu estava girando. Hoje giro, mas não com o som da sua voz... há outras vozes. Hoje ando em linha reta e me pergunto quem foi que me disse que era pra andar assim, então faço curvas, graça. Lembro de você com fome! Somos pessoas de fome, não é? E saudade (aí vai ela) é fome que não se mata. Até te ver (mas não quero mais te ver, não há vontade!). Eu sonho outros sonhos e você vive outra realidade. Roda Gigantes de tamanho que subestimamos. Já disse que você usava shorts e eu saia rodada, fomosinfantismenino, fomos infantis e agora é viver de gotas que escorrem e de fumaça que pensam em nós. Porque nossa história agora é história.

CADA UM TEM O QUE MERECE


"Cada um tem o que merece”. Estava na outra mesa, mas não pude deixar de ouvir a frase, que ficou ecoando na superfície dos meus pensamentos por todo o dia. Foi um dia comum, de trabalho estranho, de refeições planejadas, de amores indecisos. Hora de ir para casa, entrei no carro, liguei o  rádio e a música, eu não ouvia. Ouvia apenas: “cada um tem o que merece”. Dirigi um longo caminho para casa, o trânsito estava ruim, o céu, cruel de cinza ameaçava derramar muita água e apesar de estar no caminho, não estava com vontade de ir para casa. Não, cada um tem o que merece, não posso ir para casa. Sempre me perco nos caminhos de São Paulo e seria bom se hoje isso acontecesse. Eu me perdesse. Afinal, cada um tem o que merece. Mas não me perdi. Sabia direitinho como chegar em casa. Tinha escolhido um caminho já decorado... Mas como cada um tem o que merece eu decidi que merecia ir pra onde quisesse, e não era pra casa. Virei a primeira rua que parecia sem trânsito. Se não tinha trânsito numa hora de rush daquelas ou era sem saída ou ninguém queria ir pra lá. E como cada um tem o que merece, eu queria. Rua estreita, mas logo vi que tinha saída. Escura, nem parecia estar dentro de São Paulo. Na verdade, uma rua estranha. Mas era ali que precisava estar, numa rua estranha, com paralelepípedos quebrados, luz fraca e casas pequenas. Estacionei o Abutre. E se fosse assaltada? Bem, cada um tem o que merece, então sossegada, sem medo de ser assaltada. E talvez se um assaltante chegasse, eu o beijasse, pedisse que me comesse e passasse a noite comigo. Nossa que ardida que estou, enfim... Se cada um tem o que merece talvez até o levasse para tomar um vinho. Asneira. Não fui assaltada. Liguei o carro e fui em frente, sem saber pra onde. Quando me dei conta, estava na Vinte e Três de Maio parada. É assim, quando você menos espera, está engarrafada de novo. Milhares de luzes vermelhas à sua frente, todos indo para o mesmo caminho que você. Mas talvez naquela hora ficar parada no trânsito no sentido inverso ao da minha casa fosse bom pra mim, me daria tempo para pensar em onde ir. Não iria para casa. Que me esperasse, cada um tem o que merece. O rádio continuava repetitivo, os carros ao lado, todos com janelas fechadas e provavelmente blindados. São Paulo tem muito medo. Nem sei mais se o medo é das pessoas ou se cristalizou tanto que virou o medo da cidade. Conhece uma cidade que tem medo? São Paulo em si, enquanto cidade tem medo. Mas como naquela noite eu tinha certeza de que cada um tem o que merece, eu não tinha medo. Faltavam-me idéias de pra onde ir. Não queria ligar pra ninguém, convidar ninguém para nada. Queria ir sozinha pra viagem que só eu mereço fazer. Que seja merecimento ou punição: cada um tem o seu e cada um sabe-se seu. Enquanto o trânsito estava parado resolvo roer o esmalte que estava nas minhas unhas, adoroooo cor feita de cor, estava usando mentirinha, fico bem de esmalte escuro. Essa semana decidi passar roxo. Queria vibrar uma cor nova, queria irradiar alguma novidade. O roxo não ajudou, então aproveitei o nada fazer para roer a cor das unhas, roia e cuspia, uma delícia, mas sei ser um espetáculo nojento para quem olha. Nesse cuspir de unhas foi me dando vontade de chorar, aquele trânsito que parecia infinito estava me dando claustrofobia. Com certeza não só em mim. Como disse, São Paulo tem medo e São Paulo sofre. A gastronomia é maravilhosa, as opções e cultura infinitas, de compras, de lazer, tudo de primeiro mundo. Mas São Paulo tem medo e São Paulo sofre, e muito. Mas como disseram hoje de manha no Frans Café da Paulista e eu ouvi de "enxerida que sou": cada um tem o que merece. Consegui vencer o trânsito com paciência espartana. Fui brava, corajosa, respirei fundo, abri as janelas sem medo e tomei ar pra mim. Ar quente e com medo, mas enchi os pulmões para decidir onde iria. Decidido: ouvi dizer que o Ibirapuera tem passeios noturnos. Um pouco de natureza não me faria nada mal. Republica do Líbano e lá estava eu. Estacionei o carro e como ainda eram 7 e pouco da noite, vi muita gente caminhando, correndo, buscando a parte saudável do dia. Desci com medo. Agora sim estava com medo. Tinha decidido onde iria e cada um tem o que merece. Entrei no parque e comprei uma pipoca que não comi. Senti nojo e joguei na primeira lixeira que vi pela frente. Andei, andei, andei, quase uma hora, quase até minhas pernas doerem de andar. Estou fora de forma, triste lembrar. Me exercitando de menos. Mas andar estava bom. Encontraria alguém ou alguma coisa que mereço e para ter certeza de que isso aconteceria deixei o celular no carro. Nada me atrapalharia na minha busca pelo que mereço. Sentei num banco. Fui relaxando, relaxando, coloquei a bolsa ao lado e me deitei. Sim, o que tem demais deitar num banco do Ibirapuera? Deitei e peguei no sono. Acredita: cada um pega no sono onde merece. Eu peguei no sono dentro do parque do Ibirapuera. Sono pesado e sonhei. Não, não vou contar o sonho. Não foi tão legal assim, cada um tem o sonho que merece.

Minhas Vogais e Consoantes são Altamente Inflamáveis e Ardidas