4 de fevereiro de 2010

LOUCURA


Como me tornei louca?


Aconteceu assim: um dia, muito tempo antes
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas
as minhas máscaras tinham sido roubadas
- as sete máscaras que eu havia
confeccionado e usado em sete vidas -
e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando:

"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"


Homens e mulheres riram de mim e alguns
correram para casa, com medo de mim.


E quando cheguei à praça do mercado,
uma criança que tinha trepado ao telhado de uma casa gritou:

"É uma louca!".




Olhei para cima, para vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez a minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava a minha face nua,
e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais as minhas máscaras.

E, como num transe, gritei:
"Benditos, bendito os ladrões que
roubaram as minhas máscaras!"

Assim me tornei louca.

E encontrei tanta liberdade
como segurança na minha loucura:
a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendida,
pois aquele desigual que nos compreende escraviza alguma coisa em nós…

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Minhas Vogais e Consoantes são Altamente Inflamáveis e Ardidas