[Ao som de Tiê, A bailarina e o astronauta.]
Percebo que a melhor maneira de não remoer o passado é desdramatizar algumas recordações e deixá-las viver no meio de alegria e, quanto mais tristes forem, mais alegria lhes ofereço. Por vezes, rio mesmo às gargalhadas na cara delas e, em piruetas, deixo-as com ar admirado e incrédulo. Saio a fazer sarcásticas graças, apertando meu coração para não chorar…
Esta também sou eu! uma artista de circo, tentando não cair do arame que piso mais ou menos em tremeliques, sem noção da distância ao chão. Por exemplo, deveria já ter tomado o meu banho, ido ao super mercado comprar comidinha, fazer uma sopita, comer e, só então estar aqui a escrever, ou a estudar, ou a ler, a pesquisar, sei lá… Mas não! Estou sentada ao computador, com o pé esquerdo pousado na cadeira, a olhar o mundo lá fora, cinzento, esta sol até a pouco, agora chove, na verdade chove muito e vejo-o agradavelmente belo, a chuva é linda. Os pássaros voaram, estão com medo da chuva grossa que cai toda torta por que o vento se interpõe e a leva também... O trovão GRITA alto!
Entendo o passar do tempo na agonia da recordação. Certo é que não entendo algumas melancolias, mas não me atormento mais, e já faz tempo. Deixei de pensar... guardo tudo isso em baús que à falta de odiadas fechaduras, encerro com pregos possíveis de arrancar.
Náusea é a palavra adequada. Não gosto de olhar para trás, mas algumas recordações lutam desmesuradamente pela atualidade e vão-se escapando para o futuro, onde me surpreendem e mal coloco o pezinho nele.
Então eu deixo!, vou fazer o quê?
Agarrar nelas embrulhá-las num cobertor e deitá-las ao mar, agarradas a uma pesada âncora?
Sentirei a mistura do desespero de ser esquecida e a alegria de ser lembrada, sempre no silencioso grito, como se nada se passasse, tudo estivesse bem. E estava! E esta...
Tudo se torna fácil de relembrar, porque não esquecido, apenas não gosto de rever certo filmes, outros… o tempo se encarrega de repassar.
Aos poucos, por entre a música que ouço, vestida de doces recordações com cheiro de nafitalina, cheia de mim, criança, adolescente e adulta... no desejo de viajar incessantemente para dentro, em vórtice enfraquecido, regressarei ao hoje que tudo encerra, mas a sorrir.
Sempre a sorrir...
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