28 de dezembro de 2010

EU VEJO FLORES EM VOCÊ


" ... De todo o meu passado. Boas e más recordações.
Quero viver o meu presente... Ao som de IRA"



Quero para 2011 Fé. Aquela fé que te faz prosseguir crendo que tudo vai dar certo. Aquilo que me torna melhor sempre, mesmo que algo ou alguém quer destruir ou tirar a nossa paz. Penso com sinceridade, que se dermos o melhor que podemos dar, então já valeu...
Conta uma historinha que dois fazendeiros oraram pedindo que Deus enviasse a chuva, mas só um deles saiu e foi arar o campo para recebê-la. Qual fazendeiro eu quero ser? Pode ser que a chuva venha. Pode ser que a chuva não venha. Mas eu não vou decidir parar a minha vida para ficar sentada lamentando que a seca é que me impede de viver... Quero pedir para Ele que  me dê fé para arar o campo, com alegria, e que me dê discernimento para entender que nem sempre vai mandar a chuva, mas preciso fazer a minha parte. E que Ele agirá quando eu estiver pronta.

Que Deus em sua infinita misericórdia me dê sabedoria para entender que muitas vezes, quando Ele me fecha uma porta (ou quando eu bato com força numa porta), aquilo tudo me protege e me livra de algo muito, muito pior...
Quero agradecer á Deus por todas as graças deste ano, por todos os Sim's e Não's.
Por todas as portas fechadas e por tantas Janelas es-can-ca-ra-das.

Quero me desculpar por ter fraquejado tantas vezes quando as coisas aconteceram de uma forma diferente da que gostaria. Sei que não estou só.


Peço perdão á todos que sem querer ou querendo, magoei.


Obrigada pelos anjos que colocou em meu caminho, e também pelas pessoas erradas que deixou á minha disposição, para eu ter em mim sempre a certeza que só devo ANDAR ONDE TEM ESPAÇO.

Obrigada por não ter me abandonado. Por não ter desistido de mim, SENHOR.

Obrigada por ter me dado forças pra atravessar todas as tempestades que vivi esse ano....



OBRIGADAAAAA!




Deus não opera na ansiedade. O meu Deus é o Deus do impossível.








Com amor, com carinho, um beijo. E que neste ano que se inicia, se encha somente das coisas dos Céus.

24 de novembro de 2010

IMITAÇÃO DA VIDA


[Ao som dos lendários integrantes do R.EM


Adultos imitam outros para aprender a viver e se comportar como for conveniente; e as crianças gostam de trocar papéis: a criança preta quer ser branca e tem vergonha da mãe que é preta, enquanto a criança branca adora brincar a ser preta para se agarrar às saias da sua ama africana. A criança africana diz ser filha da patroa branca, essa que imita atrizes para conseguir um papel no teatro.

E a imitação começa.

A vida é aprendida de observar os comportamentos adequados, como escrevi um dia num texto meu que a Edna corrigiu, com amizade e fraternidade. Mais uma imitação à vida: as suas correções fizeram-me criar uma outra categoria: a conduta conveniente. A conduta adequada é pública : saber falar, dizer as palavras atraentes, usar os vocábulos aceites em sociedade, cumprimentar de mão estendida, tirar o chapéu (fui longe agora, rs), e outras. A conduta adequada é a que corresponde ao grupo de pares com os que partilhamos a vida. Falei bonito agora.

A criança distingue muito bem entre os dois tipos de comportamentos: se está com adultos, pede licença para sair da mesa antes dos adultos (nem sempre); se está com os seus pares, quem acabar primeiro é quem corre ao televisor para continuar a ver o filme que tinha começado antes do almoço. Com cortesia, solicitam se podem: bem sabe a criança que os adultos não vão dizer não, pois a seguir seria uma birra de todo tamanho que não deixava comer calmos os adultos e estaria irrequieta porque os seus nunca mais acabavam a conversa, a calma de uma comida, as histórias que a mesa eram contadas e que aos mais novos nada interessava, não entendiam e o filme era mais interessante que as histórias antigas. Exceto, é evidente, se estiverem a falar dos pequenos, deles próprios: eles mandavam calar os "grandes" e completavam o conto à sua maneira. Os adultos calavam e permitiam, em silêncio, ouvir os cumprimentos que os pequenos ofereciam a si próprios? fosse verdade ou mentira. Na boca de uma criança, aliás, quase não há mentiras, é a sua forma de ver os fatos e a sua interpretação dos mesmos; interpretação que o adulto deve entender e não acrescentar e não interpretar a realidade exposta pelos mais novos. Seria uma grave interpretação do que é educar e dar carinho.

O adulto imita a vida enquanto é pai? mãe, aceita o ideário dos pequenos e nunca diz que não é verdade o que eles contam, e vai mudando com o tempo das crianças a crescerem. A doçura dos pais é mais uma aceitação das crianças e uma prova de amor e de estima, de emotividade e de orientar a sua vida pelas carícias das palavras e da segurança a dar, confiança em si próprios, sem jamais puni-los. Se houver uma birra, faz-se ao mais novo um olhar para outro lado, ou com uma carícia, ou a ignorar a birra até esta passar. A criança imita a vida que os seus adultos ensinam com o seu próprio comportamento. Como esse dia do vôo de volta ao seu país de origem, imensas horas retidos no aeroporto ao mudar de avião e ter perdido a combinação. Os adultos, impacientes, debatiam um com o outro, perdido o imaginário de brincar aos aviões, de cantar aos bonecos, de se contarem histórias e de lembrar a praia, sumidos nas preocupações de horário e outros assuntos.

Camilly me disse uma vez que: as pessoas não se zangam, dão a mão e passeiam, mãe, você que me ensinou. E  me acalmei, como bom ser humano que sou... E sem perceber, ela me imitava.
A vida é uma imitação. A criança aprende a ser feliz ao ser tratada com amor e nunca criticada pelas "macaquices" do seu comportamento. Imitação à vida é a reprodução do amor que os adultos têm entre eles e, por extensão, aos mais novos. Como acontece comigo, com minha filha, minhas sobrinhas...

5 de novembro de 2010

GOSTO MAIS QUE BALA


Amo este diálogo do filme o Fabuloso destino de Amelie Poulain, aff...




"São tempos difíceis para os sonhadores"


- Ela parece distante... talvez seja porque está pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes.
- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela?
E a bagunça na vida dela?
Quem vai pôr ordem? '


O PROFESSOR ESTA SEMPRE ERRADO



Seria engraçado, se não "foçe" trágico!




O material escolar mais barato que existe na praça é o professor!
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia'.
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um 'caxias'.
Precisa faltar, é um 'turista'.
Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, deu 'mole'.


É, o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui, agradeça a ele!


Jô Soares

EU, POR CAIO F ABREU


"Ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo.  Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna.”

2 de novembro de 2010

VAMOS COMEÇAR...


COLOCANDO UM PONTO FINAL.



[Ao som de Tudo Novo de Novo, ofereço á todos
e á todas que insitem em começar quantas vezes
forem necessárias]



Quero tudo novo de novo. Quero não sentir medo. Quero me entregar mais, me jogar mais, amar mais. Viajar até cansar. Quero sair pelo mundo. Quero fins de semana de praia. Aproveitar os amigos e abraçá-los mais. Quero ver mais filmes e comer mais pipoca, ler mais. Sair mais. Quero um trabalho novo. Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto. Quero morar sozinha, quero ter momentos de paz. Quero dançar mais. Comer mais brigadeiro de panela, acordar mais cedo e economizar mais. Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais. Pensar mais e pensar menos. Andar mais de bicicleta. Ir mais vezes ao parque. Quero ser feliz, quero sossego, quero outra tatuagem. Quero me olhar mais. Cortar mais os cabelos. Tomar mais sol e mais banho de chuva. Preciso me concentrar mais, delirar mais.

Não quero esperar mais, quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais. Quero conhecer mais pessoas. Quero olhar para frente e só o necessário para trás. Quero olhar nos olhos do que fez sofrer e sorrir e abraçar, sem mágoa. Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa. Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão. Quero aceitar menos, indagar mais, ousar mais. Experimentar mais. Quero menos “mas”. Quero não sentir tanta saudade. Quero mais e tudo o mais.

“E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha".
      (Fernando Pessoa)

COMO É DIFÍCIL ESVAZIAR A MENTE


[Para ouvir ao som de Samba da Benção
 trilha sonora de comer rezar amar]




Assisti ao filme ontem, digo hoje, saimos tão tarde do cinema... Enfim, muitas coisas gostei, outras nem tanto.


Como para variar estou notívaga, direi apenas coisas que me tiraram do eixo, como por exemplo:

 - Sinto saudades...
 - Sinta.
 - Mas acho que o amo.
 - Então ame...
 - Toda vez que se lembrar dele, libere amor, paz, e ESQUEÇA!

 - Se você esvaziasse sua mente, ela se abriria...
E sabe o que Deus faria?
                  ELE a preencheria...



Senhor, preencha! Não quero mais... e já faz um tempo.






De todas as maneiras
Que há de amar
Nós já nos amamos
Com todas as palavras feitas pra sangrar
Já nos cortamos
Agora já passa da hora
Tá lindo lá fora
Larga a minha mão
Solta as unhas do meu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
Quando entra o verão!                        (Chico Buarque)



Por quê é tão difícil esvaziar a mente?!

27 de outubro de 2010

CONCRETO?


[Como estou tão solipsista, ouvirei bem baixinho,
ao som de Lauren Hoffman]






Solipsismo (do latim "solu-, « só » +ipse, « mesmo » +-ismo".) 

 = 

(Eu e Sozinha)





Sei que estou só, mesmo com todos, fico assim só e comigo mesma.
Parece que nada existe fora do meu pensamento e que tudo aquilo que percebo não passa de uma espécie de sonhos que tenho ou tive.

Deve ser isso que chamam de costume, coisinhas de quem vive na solidão.

Ah, Clarice, somente você seria capaz de compreender o que sinto agora. Este agora que já esta tão distante e distraído.


"Fiquei com vontade de chorar mas felizmente não chorei,
 porque quando choro fico tão consolada..." (C.L)







Não quero estar consolada... Lúcida já me basta!  Já te basta... 

21 de outubro de 2010

ZÉZIM


  [Para ouvir bem alto, até que a alma levite,






Carta ao Zézim
Caio Fernando Abreu


Porto, 22 de dezembro de 1979



Zézim,

Cheguei hoje de tardezinha da praia, fiquei lá uns cinco dias, completamente só (ótimo!), e encontrei tUa carta. Esses dias que tô aqui, dez, e já parece um mês, não paro de pensar em você. Tou preocupado, Zézim, e quero te falar disso. Fica quietO e ouve, ou lê, você deve estar cheio de vibrações adeliopradianas e, portantO, todo atento aos pequenos mistérios. É carta longa, vai te preparando, porque eu já me preparei por aqui com uma xícara de chá Mu, almofada sob a bunda e um maço de Galaxy, a decisão pseudo-inteligente.

Seguinte, das poucas linhas da tUa carta, 12 frases terminam com ponto de interrogação. São, portanto, perguntas. Respondo a algumas. A solução, concordo, não está na temperança. Nunca esteve nem vai estar. Sempre achei que os dois tipos mais fascinantes de pessoas são as putas e os santos, e ambos são inteiramente destemperados, certo? Não há que abster-se: há que comer desse banquete. Zézim, ninguém te ensinará os caminhos. Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos. Na verdade, não há caminhos. E lembrei duns versos dum poeta peruano (será Vallejo? não estou certo): “Caminante, no hay camino. Pero el camino se hace ai anda”.

Mais: já pensei, sim, se Deus pifar. E pifará, pifará porque você diz ”Deus é minha última esperança". Zézim, eu te quero tanto, não me ache insuportavelmente pretensioso dizendo essas coisas, mas ocê parece cabeça-dura demais. Zézim, não há última esperança, a não ser a morte. Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado. Tudo é maya / ilusão. Ou samsara / círculo vicioso.

Certo, eu li demais zen-budismo, eu fiz ioga demais, eu tenho essa coisa de ficar mexendo com a magia, eu li demais Krishnamurti, sabia? E também Allan Watts, e D. T. Suzuki, e isso freqüentem ente parece um pouco ridículo às pessoas. Mas, dessas coisas, acho que tirei pra meu gasto pessoal pelo menos uma certa tranqüilidade.

Você me pergunta: que que eu faço? Não faça, eu digo. Não faça nada, fazendo tUdo, acordando todo dia, passando café, arrumando a cama, dando uma volta na quadra, ouvindo um som, alimentando a Pobre. Você tá ansioso e isso é muito pouco religioso. Pasme: acho que você é muito pouco religioso. Mesmo. Você deixou de queimar fumo e foi procurar Deus. Que é isso? Tá substituindo a maconha por Jesusinho? Zézim, vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off. Você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para Nova York, nem.

Você quer escrever. Certo, mas você quer escrever? Ou todo mundo te cobra e você acha que tem que escrever? Sei que não é simplório assim, e tem mil coisas outras envolvidas nisso. Mas de repente você pode estar confuso porque fica todo mundo te cobrando, como é que é, e a sua obra? Cadê o romance, quedê a novela, quedê a peça teatral? DANEM-SE, demônios. Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é uma questão de honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida.

Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud.

É esse tipo de criador que você quer ser? Então entregue-se e pague o preço do pato. Que, freqüentemente, é muito caro. Ou você quer fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na CultUra, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa? Eu acho que não. Eu conheci / conheço muita gente assim. E não dou um tostão por eles todos. A você eu amo. Raramente me engano.

Zézim, remexa na memória, na infância, nos sonhos, nas tesões, nos fracassos, nas mágoas, nos delírios mais alucinados, nas esperanças mais descabidas, na fantasia mais desgalopada, nas vontades mais homicidas, no mais aparentemente inconfessável, nas culpas mais terríveis, nos lirismos mais idiotas, na confusão mais generalizada, no fundo do poço sem fundo do inconsciente: é lá que está o seu texto. Sobretudo, não se angustie procurando-o: ele vem até você, quando você e ele estiverem prontos. Cada um tem seus processos, você precisa entender os seus. De repente, isso que parece ser uma dificuldade enorme pode estar sendo simplesmente o processo de gestação do sub ou do inconsciente.

E ler, ler é alimento de quem escreve. Várias vezes você me disse que não conseguia mais ler. Que não gostava mais de ler. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer. Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente.

Ou então vá fazer análise. Falo sério. Ou natação. Ou dança moderna. Ou macrobiótica radical. Qualquer coisa que te cuide da cabeça ou/ e do corpo e, ao mesmo tempo, te distraia dessa obsessão. Até que ela se resolva, no braço ou por si mesma, não importa. Só não quero te ver assim engasgado, meu amigo querido.

Pausa.


Quanto a mim, te falava desses dias na praia. Pois olha, acordava às seis, sete da manhã, ia pra praia, corria uns quatro quilômetros, fazia exercícios, lá pelas dez voltava, ia cozinhar meu arroz. Comia, descansava um pouco, depois sentava e escrevia. Ficava exausto. Fiquei exausto. Passei os dias falando sozinho, mergulhado num texto, consegui arrancá-lo. Era um farrapo que tinha me nascido em setembro, em Sampa. Aí nasceu, sem que eu planejasse. Estava pronto na minha cabeça. Chama-se Morangos mofados, vai levar uma epígrafe de Lennon & McCartney, tô aqui com a letra de Strawberry fields forever pra traduzir. Zézim, eu acho que tá tão bom. Fiquei completamente cego enquanto escrevia, a personagem (um publicitário, ex-hippie, que cisma que tem câncer na alma, ou uma lesão no cérebro provocada por excessos de drogas, em velhos carnavais, e o sintoma — real — é um persistente gosto de morangos mofados na boca) tomou o freio nos dentes e se recusou a morrer ou a enlouquecer no fim. Tem um fim lindo, positivo, alegre. Eu fiquei besta. O fim se meteu no texto e não admitiu que eu interferisse. Tão estranho. Às vezes penso que, quando escrevo, sou apenas um canal transmissor, digamos assim, entre duas coisas totalmente alheias a mim, não sei se você entende. Um canal transmissor com um certo poder, ou capacidade, seletivo, sei lá. Hoje pela manhã não fui à praia e dei o conto por concluído, já acho que na quarta versão. Mas vou deixá-lo dormir pelo menos um mês, aí releio — porque sempre posso estar enganado, e os meus olhos de agora serem incapazes de verem certas coisas.

Aí tomei notas, muitas notas, pra outras coisas. A cabeça ferve. Que bom, Zézim, que bom, a coisa não morreu, e é só isso que eu quero, vou pedir demissão de todos os empregos pela vida afora quando sentir que isso, a literatura, que é só o que tenho, estiver sendo ameaçada como estava, na Nova.

E li. Descobri que ADORO DALTON TREVISAN. Menino, fiquei dando gritos enquanto lia A faca no coração, tem uns contos incríveis, e tão absolutamente lapidados, reduzidos ao essencial cintilante, sobretudo um, chamado "Mulher em chamas". Li quase todo o Ivan Ângelo, também gosto muito, principalmente de O verdadeiro filho da puta, mas aí o conto-título começou a me dar sono e parei. Mas ele tem um texto, ah se tem. E como. Mas o melhor que li nesses dias não foi ficção. Foi um pequeno artigo de Nirlando Beirão na última IstoÉ (do dia 19 de dezembro, please, leia), chamado "O recomeço do sonho". Li várias vezes. Na primeira, chorei de pura emoção - porque ele reabilita todas as vivências que eu tive nesta década. Claro que ele fala de uma geração inteira, mas daí saquei, meu Deus, como sou típico, como sou estereótipo da minha geração. Termina com uma alegria total: reinstaurando o sonho. É lindo demais. É atrevido demais. É novo, sadio. Deu uma luz na minha cabeça, sabe quando a coisa te ilumina? Assim como se ele formulasse o que eu, confusamente, estava apenas tateando. Leia, me diga

o que acha. Eu não me segurei e escrevi uma carta a ele dizendo isso. Não sou amigo dele, só conhecido, mas acho que a gente deve dizer.

Escrevendo, eu falo pra caralho, não é?

Aqui em casa tá bom. É sempre um grande astral, não adianta eu criticar. O astral ótimo deles independe da opinião que eu possa ter a respeito, não é fantástico? A casa tá meio em obras, Nair mandou construir uma espécie de jardim de inverno nos fundos, vai ligar com a sala. Hoje estava pUta porque o Felipe não vai mais fazer vestibular: foi reprovado novamente no 3º colegial. Minha irmã Cláudia ganhou uma Caloi 10 de Natal do noivo (Jorge, lembra?), e eu me apossei dela e hoje mesmo dei voltas incríveis pelo Menino Deus?. Márcia tá bonita, mais adultinha, assim com um ar meio da Mila. Zaél cozinhando, hoje faz arroz com passas para o jantar.


Povos outros, nem vi. Soube que A comunidade está em cartaz ainda e tenho granas pra receber. Amanhã acho que vou lá.

Tô tão só, Zézim. Tão eu-eu-comigo, porque o meu eu com a família é meio de raspão. Tá bom assim, não tenho mais medo nenhum de nenhuma emoção ou fantasia minha, sabe como? Os dias de solidão total na praia foram principalmente sadios.

Ocê viu a Nova? Tá lá o seu Chico, tartamudeante, e uma foto muito engraçada de toda a redação — eu com cara de "não me comprometam, não tenho nada a ver com isso". Dê uma olhada. Falar nisso, Juan passou por aqui, eu tava na praia, falou com Nair por telefone, estava descendo de um ônibus e subindo noUtro. Deixou dito que volta dia três de janeiro ou fevereiro, Nair não lembra, pra ficar uns dias. Ficará? E nada acontecerá. Uma vez me disseram que eu jamais amaria dum jeito que "desse certo", caso contrário deixaria de escrever. Pode ser. Pequenas magias. Quando terminei Morangos mofados, escrevi embaixo, sem querer, "criação é coisa sagrada”. É mais ou menos o que diz o Chico no fim daquela matéria. É misterioso, sagrado, maravilhoso

Zézim, me dê notícias, muitas, e rápido. Eu não pensei que ia sentir tanta falta docê. Não sei quanto tempo ainda fico, mas vou ficando. Quero escrever mais, voltar à praia, fazer os documentos todos. Até pensei: mais adiante, quando já estivesse chegando a hora de eu voltar, você não queria vir? A gente faria o mesmo esquema de novo, voltaríamos juntos. A família te ama perdidamente, hoje pintaram até uns salseirinhos rápidos porque todo mundo queria ler a matéria do Chico ao mesmo tempo.


Let me take you down
cause I’m going to strawberry fields
nothing is real, and nothing to get hung about
strawberry fields forever
strawberry fields forever
strawberry fields forever


Isso é o que te desejo na nova década. Zézim, vamos lá. Sem últimas esperanças. Temos esperanças novinhas em folha, todos os dias. E nenhuma, fora de viver cada vez mais plenamente, mais confortáveis dentro do que a gente, sem culpa, é. Let me take you: I’m going to strawberry fields.



Me conta da Adélia.


E te cuida, por favor, te cuida bem. Qualquer poço mais escuro, disque 0512-33-41-97. Eu posso pelo menos ouvir. Não leve a mal alguma dureza dita. É porque te quero claro. Citando Arantes, pra terminar: "Eu quero te ver com saúde I sempre de bom humor I e de boa vontade".



Um beijo do
Caio



PS — Abraço pro Nello. Pra Ana Matos, e Nino também.





(¹) Bairro de Porro Alegre onde Caio morou com os pais. (N. do E.)





Que sutileza, que carta mais singela!

FALTA


Cadê o meu azul?





é possível sentir tantas saudades, de quem ainda não conheci?!


25 de setembro de 2010

VAI MENINA



"Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida. Como quem não tem o que perder. Como quem não aposta. Como quem brinca somente.

Vai, esquece do mundo. Molha os pés na poça. Mergulha no que te dá vontade. Que a vida não espera por você. Abraça o que te faz sorrir. Sonha que é de graça.

Não espere. Promessas, vão e vem. Planos, se desfazem. Regras, você as dita. Palavras, o vento leva. Distância, só existe pra quem quer. Sonhos, se realizam, ou não.

Os olhos se fecham um dia, pra sempre. E o que importa você sabe, menina. É o quão isso te faz sorrir. E só. "



Ao som de Tiê, Passarinho, porque voar é preciso!
 
 
 

DE POSSIBILIDADES


[E, ao som de  
com saudades de futuro, encontrei...]








"Fico pensando se não somos tão carentes ao ponto de não viver melhor sem alguém. E há tanto medo de não ser escolhido, e de ser escolhido e ser trocado, ou ainda de não ser escolhido totalmente, ou de escolher e viver achando que essa escolha é uma prisão. Mas eu lembro de nós dois, enquanto penso nisso tudo, do nosso pacto pelo total aproveitamento diário, essa liberdade quase imposta de saber-se poder ir embora quando não for mais tão essencial. Eu lembro que se estamos juntos é porque, todos os dias, ao acordar e nos olharmos tão frágeis, tão fortes, tão vulneráveis, tão entregues, nós fazemos novamente a escolha de ontem, e cumprimos o resto do dia alimentando esse 'estarmos juntos' com intensidade e delicadeza. Eu fico pensando nos nossos ajustes e na vontade que temos de sabedoria em meio a toda essa embriaguez da paixão. E acho que se esse ainda não é o caminho certo, pelo menos, é o mais bonito por enquanto. E o que me deixa mais inteira, a cada passo. E fico pensando enquanto avanço: eu amo construir a mesma estrada com você... Eu amo morar no teu abraço." 




É tão lindo, que precisava ser meu. Não é, por isso roubei.
Obrigada pela beleza destas letras que se  juntam lindamente M. de Queiroz.

ELA SE DIVERTE AO CANTAR

... eu me divirto ouvindo-a.




A - do - gooooo

ME BEIJARAM A BOCA E ME TORNEI POETA


"Mas tão habituada com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso
E o meu medo maior é o espelho se quebrar..."

Quase não tenho medos, estranho confessar isso. Não moro com meus pais, tenho alguém que infinitamente depende de mim. E mesmo assim, não temo. Fiquei indagando horas e horas, olhando dentro dos meus olhos e percebi o por quê dele não me atingir.

Eureka!

Meu pai, com sua aparente calma apressada, dono do sorriso mais largo, sincero e bonito. Todo intelectual e calculista, mas com um coração quente e imenso. É todo elegante e cheiroso, tem senso de humor sarcástico e jocoso.

Minha mãe, é linda, inteligente, educada, uma leoa. Estudiosa, delicada, mais extremamente forte. Quando ela anda, parece desfilar, tem gestos precisos e leves. Sabe sorrir com os olhos e tira qualquer dor com um abraço.

...


Sou a mistura dos dois da forma mais intensa e precisa. Sou um tango rasgado, a fraude mais perfeita!


 

E então  ele veio sorrateiro... Caminhando devagar e falando bem baixinho, GRITANDO, o ouvia tão alto e nítido, temi. O pavor invadiu os pensamentos, temo viver sem a constante presença dos meus anjos.


O medo dominou me com um abraço sufocante, chorei feito criança ao imaginar a ausência dos meus pais.



Na verdade este medo sei de côr, quando criança, tinha pesadelos com meus pais, acordava assustava, chorando, parecia tão real, então,  sem demora, ia ter com eles, ficava entre os dois e cobria a cabeça, o sono vinha manso, daí sonhava diferente, por que estava protegida.

Meus pais me salvam de mim o tempo todo.



"Desde que descobrira – mas descobrira realmente com um tom espantado – que ia morrer um dia, então não teve mais medo da vida, e, por causa da morte, tinha direitos: arriscava tudo."







O tempo todo estou sendo salva.

22 de setembro de 2010

SEI QUE SOU

Uma Fraude!
Mais digo isso bem baixinho que é pr'a não te assustar.




Escrito para mim...



Digo menos do que penso
Falo mais do que faço
Me defendo como posso

Me esforço pra ser fácil
E me finjo de difícil
Mas me dou de graça
Pra quem descobrir minha farsa





Beijosnabochechamaciaerosada

QUANDO NÃO SE SABE PARA ONDE VAI...

NENHUM LUGAR É CERTO!



Queria saber o porque dessa nuvem nunca ir embora. Ou pelo menos se afastar com mais frequencia. Essa necessidade de certeza me mata, me deixa cada dia mais insegura com os caminhos que trilho. Me sinto impotente diante da minha infinita necessidade de ser perfeita sempre, comigo e com os outros... Enquanto isso, sinto uma enorme vontade de mandar 3/4 do mundo  pr'a P.Q.P.

Na maioria das  vezes fico entre o anjo bom e o anjo ruim, e normalmente, o bom acaba me convencendo.

Não é fácil tomar decisões sempre baseadas em lógica e fatos. Porque o mundo não é empírico, e muito menos exato. E racionalmente sei disso, mas crio uma espécie de rebelião interna  RECUSANDO a aceitação. É como se ao mesmo tempo que tomo uma decisão que acho certa eu tivesse que revê-la por mais incontáveis vezes até eu me convencer de que é isso mesmo, não tem mais volta.

Me forço a ser fria e calculista, mas nem sempre consigo. De vez em quando algumas pessoas conseguem me ver sem essa máscara. Poucas, raras... Sou uma fraude!

Racionalmente consigo colocar tudo num panorama muito claro. Entendo porque tomo determinadas atitudes, entendo pq sou o que sou. Mas há alguns ciclos que são difíceis de quebrar, que não se deixam levar por fatos e lógica. Estes ciclos são alimentados por um sei-lá-o-que que eu detesto saber que existe... Mas existe e eu não consigo me livrar dele.





20 de julho de 2010

CALÍGULA

Assisti na última sexta feira, em Natal num teatro maravilhoso "Alberto Maranhão" á peça Calígula. Conta a história de um imperador romano que, movido pelo desespero existencial, virou um tirano cruel, nomeou senador seu cavalo, deserdou patrícios em nome do Estado, torturou seus opositores, violentou suas mulheres e ainda abriu um bordel público com as viúvas de suas vítimas. Thiago Lacerda é, a partir de hoje, Calígula, o insano imperador visto pelo escritor e dramaturgo argelino Albert Camus (1913-1960) numa releitura mais que livre de Suetônio. Justo. Também Suetônio foi muito mais um contador de casos que historiador e mesmo Camus jamais pretendeu escrever uma peça histórica. Apenas aproveitou o anedótico do panfleto biográfico de Suetônio e fez dele um tratado niilista, a despeito de jamais assumir sua peça como filosofia. Mas é. Calígula é Nietzsche relido pelo pied-noir Camus.

Estas fotografias são da peça, olha que lindas!

Amei, minto... Amamos, minha filha ficou em extase!



















2 de julho de 2010

APOSENTANDO O IMPREVISTO

Já parou para pensar que muito em breve o imprevisto vai deixar de existir?

Eu fico pensando... como cargas d´água existia vida sem internet e telefone celular? E olha que eu ainda vivi isso, hein?

Quando tinha a idade da minha filha, ouvia rádio e aguardava a tão esperada música tocar e ai pronto, começava a gravar e a rezar para que o locutor não estragasse a música, com a sua vinhetinha no final.




Hoje, tudo é diferente. Furou o pneu? Liga para o borracheiro, liga para o escritório, liga pra filha... pronto. Todo mundo já está ciente do problema. Em tempo real.

Acho que isso afetou a noção de compromisso das pessoas. Antes você marcava um horário e tinha de cumprir. Não tinha essa comodidade de avisar: "Tô no trânsito, tá o maior engarrafamento". Antes, filho, era tal hora e pronto. E nem adiantava descer do carro e ligar do orelhão (que já existia). A pessoa que estava te esperando também não tinha celular. Era bacana, de certa forma. O pessoal, de uns tempos pra cá, criou a mania de se escorar no tal do "chego já". "10 minutos", "5", "2". E, no fim, acaba atrasando meia-hora. Uma hora.


E depois reclamam que eu sou antiquada.

ALGUNS PROCEDIMENTOS

Adapte-se.

Essa é a receita do sucesso, tcharaaaaam.

Invente de se impor ao meio... você dança, jovem. Dança lindo.

Fique pianinho, guarde suas convicções para você e pronto. Nota 10.

Mas nunca perca o sentimento e a consciência limpa aí dentro, senão cê enlouquece.

Saiba sempre que você só quer o bem e se esforça muito pra isso. Errado está o mundo, fazer o quê?


E então... Ufa, respireeeeee.

1 de julho de 2010

LISPECTOR ME ENTENDERIA




 
Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio.


(C.L)

ÁGUA MORNA COM GOSTO DE SAL

Volta



Madrugada. Angústia. Sono. Choro. Esperança. Notívaga.  Cínica. Vazia. Mentira. Feinha. Má. Insana. Azeda. Metonímia. Ardida. Mudança. Inquietude. Coisinha. Satisfação. Desespero. Chega.
É ponto final?




Manhã



Telefonema. Chuveiro. Óleo de essências. Escova. Nada de Espelho. Toalha. Sorriso. Balança. Relógio. Calcinha. Regata. O salto. Escola. Alunos. Lembranças: A água morna com gosto de sal de todas as madrugadas. A mesma história estranha, mas com cara de nova? Minha história é o máximo. Jeans com regata também é.

E tenho dito.
 
Mas ainda não dá pé? Mas eu já mergulhei... E agora?!
 
[SUFOCO]
[EXPLOSÃO]
 

sobrevivi.



Mas você, ardidamenina, não é nada fácil!

5 de junho de 2010

O BICHO


Vi ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem. (Bandeira, M)


Queridos e raríssimos leitores, sinto ao ler essa poesia uma compreensão fraternal do mundo, não isenta de melancolia e crítica. Ela deve contribuir como um grito de alerta, já que, na sociedade há pessoas que vivem do lixo e no lixo. Bandeira observava as pessoas da janela de sua casa na Lapa, porque a doença às vezes o impedia de sair. O dia-a-dia desperta uma completa revolução literária. Há uma forte tendência de valorizar a discussão dos problemas sociais. Aníbal Machado tem razão ao dizer que: “Não sabemos o que queremos, mas sabemos discernir o que não queremos”. O que vale é a intuição do poeta. Isso Bandeira tinha no seu jeito de enxergar o mundo. As imagens citadas na poesia são tiradas da vida diária. Existe um interesse pelo social. Nesse instante observamos o quanto à poesia colabora com os estudantes ao escrever um texto, seja qual for a tipologia escolhida. Isso pode ser comprovado com o argumento de autoridade segundo Platão & Fiorin em seu livro Lições de texto: leitura e redação. Othon Garcia também indica o que ele chama de métodos de autoridade. É a citação de autores renomados. Talvez seja por isso que alguns escritores afirmam que todo texto tem intertextualidade. Só precisamos ter cuidado para não citarmos frases falsas, que não fazem parte da realidade.





Não há mais como fechar os olhos e dizer que não somos analfabetos funcionais, ou mesmo dizer que não somos excluídos socialmente.  


"A gente não quer só comida..."

22 de maio de 2010

21 de maio de 2010

18 de maio de 2010

DEcrescendo, DEsevoluindo, DEcepcionando - se

Sabe quando tudo parece bem menor e bem menos interessante?


Sabe quando você se lembra de uma coisa que é incrível e espera ansiosamente por ela e aí...



Quando é chegado o grande dia... Não é mais a mesma coisa?


Meus alunos, fanáticos, assistindo ao  Big Brother na sétima série e no ensino médio também (muitos deles eram medianos mesmo), o máximo. Eles torciam, e acreditava que era tudo muito real, as pessoas boas, as pessoas más. Depois, vê que a globo encheu a cara e deu o segundo lugar pra uma loira (?) que nem aparecia até que coincidentemente recebeu uma carta libetadora e... Ó óóó, virou uma super loura que bebe, se joga pra tudo que é homem e quem não é também, faz dancinha sensual etc. Sem contar na carinha natural de surpresa do Dourado, o cara que anos atrás disse na lavação de roupa suja que foi prejudicado pela edição.


Ou numa reunião de família, que era tão divertido e agora... parece que a sua família é tão pequena, e o que era tradição agora nem parece tão tradicional assim, só uma imposição para primos e agora os agregados deles que ficam sentadinhos aos pares nos cantos.


A diminuição das coisas também pode ser percebida quando você assiste desenho animado, o pica-pau é só um passarinho de risada irritante, os power ranger são um bando de atores com roupas coloridas idiotas, e o Doug é engraçadinho.


Como vês, estou ácida!


Seus pais agora são pessoas comuns e cheias de defeito que podem até te dar colo, mas não podem mais salvar o mundo, nem resolver seus problemas, que passaram de desentendimentos com seus coleguinhas a desemprego, separação, amores impossíveis, fracassos.



Parece um filme de Alice no país das Maravilhas, em que você fica mudando de tamanho o tempo todo e cai num buraco sem fim, e vai caindo... caindo.... e a luz no fim parece que nunca vai aparecer, você é grande demais para ser criança e pequeno demais para ser gente grande, você convive com a impressão de que devia ser mais inteligente, você sabe "muito" pouco para sua idade e o mercado quer isso e aquilo e você não é nem aquele!!! Nem esse! Você ainda nem sabe quem é você, pode dar informações banais como nome, endereço, telefone e número do CPF, mas além disso vai dizer o que? O seu objetivo é o primeiro item do seu currículo e você nem sabe se tem mesmo um objetivo! Só Deus sabe e você ainda não tem uma idéia formada sobre Deus, religião etc!


E você vai fazer o que?

O que quer fazer?

Quer estudar o que?

Quer trabalhar em que área?



O que ninguém parece entender é que o máximo que você tem agora é uma graduação em curso e um caminho iniciado que supostamente foi você que escolheu, mas na verdade você estava vendo tv, brincando, fazendo o dever de casa e de repente! Você havia crescido e precisava lidar com uma série de escolhas e problemas incompatíveis com seu tamanho. Você pode até ignorar um monte de coisas e passar metade do seu tempo se divertindo, bebendo, "pegando", e quem sabe até fumando maconha, mas isso não quer dizer que você esteja melhor. Só que arranjou uma forma de comer os cogumelos alucinógenos do país das maravilhas. Mas quando acordar vão te cobrar respostas da mesma maneira. Respostas que você não sabe nem onde procurar. Parece que decrescemos enfim, não somos mais tão satisfeitos como quando éramos crianças nem temos mais tanto esteio, e acho que se eu assistisse tv cruj hoje em dia, ligaria pro caju e diria pra ele não falar tão mal de ultra-velho, já é muito difícil ser gente grande sem filho, imagina gente grande com filho! Agora entendo porque os ultra-velhos eram tão malas, eles eram confusos e perdiam a capacidade de achar tudo divertido! Tadinhos deles, tadinho de nós!!!

Tadinhos de vocês, alunosqueridos!

FALANDO DISSO

denovooo.

Li e...


"(...) Rubem Alves utiliza uma estória para definir a INVEJA. Um homem encontra um gênio da lâmpada. Como já é de se esperar, o ser flutuante pode realizar todos os sonhos do sortudo, basta que este os verbalize. Ao imaginar todas as belezas e tesouros do mundo, de repente o homem se entristece, pois recebe do gênio uma notícia que não esperava: "a cada desejo realizado, o seu pior inimigo receberá em dobro o que foi pedido". O homem pensa, pensa, pensa e pede: "ME FURE UM OLHO".



Assim é a INVEJA e o invejoso, infeliz, porque é pequeno, é mesquinho, é feio.



O invejoso é o pior cego porque não se enxerga, não percebe que ninguém brilha com a luz do outro, que somente conseguimos brilhar com luz própria, que é uma soma de várias luzes, luzes dos outros, luzes ofertadas com amor, carinho, alegria, amizade, fraternidade, bem querer. Só brilha também aquele que é capaz de doar sua luz, com desprendimento, porque tudo na vida é uma troca, de energia, de luz, de carinho, de amor.



Só consegue brilhar e doar luz aquele que tem a alma leve e o coração puro, que sabe que tudo o que ofertar de coração, lhe será retribuído em dobro, triplo, quadruplo, exponencialmente e infinitamente. E que por ser assim feliz, sua luz nunca vai deixar de brilhar.



Mas para isso é preciso despertar para o belo, para o bom, para a felicidade. Um despertar solitário porque de alma, essência, sentimento. Tenha coragem de tornar-se uma pessoa melhor.



O pôr-do-sol começa dentro da gente antes de começar no poente..."
Chega uma hora em que você descobre que insistir é diferente de perseverar. Quase se transforma em
(IN)comodar.



Então prossegue...






Nem sei de quem é, mas parece meu.

PÁGINA

(...)




Então eu fingi superficialidade e estranhamento. Fingi outro texto de partida, mas só pra descobrir que seria responsabilizada de novo. Por mim.


Alguns sentimentos a gente mata só quando mata o que há de mais bonito na gente. Assim.



 

Passou o dia pensativa juntando coragem na saliva até encorpar a voz. Aproveitou o ápice da sua agonia e, num impulso, disse tudo numa sensação só:

“A partir de hoje, decidi gostar de outro”.

No início ele riu da ousadia, mas o silêncio que ela fez em seguida preencheu de sinceridade aquela novidade.

“Você ficou maluca, de onde tirou isso?”

“ É que você nunca gostou de mim no grosso mesmo do sentimento...”

“ Mas ninguém decide que vai gostar de outro de repente e, simplesmente, começa a gostar!”

“ Ah, mas eu decidi... Ele vai realizar um sonho que tenho comigo: ele disse que vai gostar de mim bem do jeitinho que eu gosto de você. A diferença é que eu sei merecer essas coisas...”

(Marla de Queiroz)


9 de abril de 2010

DOIDAS E SANTAS


Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar o nosso poder de sedução para encontrar the big one, aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais. Uma tarefa que dá prá ocupar uma vida, não é mesmo? Mas além disso, temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo pro alto e embarcar num navio pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar loura e cafetina, ou sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.

Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascina a todos.


Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota.

Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe.
.

Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só se for louca de pedra.



[Martha Medeiros]






Tô preferindo ser uma louca boa, porque ser santinha...




4 de abril de 2010

FALA

Criaturaaa...


O lavar-roupa-suja, o acerto de contas, os pontos nos ís... E ter que escutar as mesmas mentiras. As mesmas desculpas. O mesmo blá-blá-blá.


O bom é a distância para não apelar para a ignorância.


O deixar quieto. Ou simplesmente rir com o cinismo e a cara de pau. Sabe, somente os caras-de-pau sobrevivem. Eles que levam a melhor.

Nunca consegui ser assim. De qualquer modo, eu ri e rio á beça. Nem tanto para machucar. Mas pra saber. I see as coisas com outros olhos. Tenho um novo olhar. Já não sou a mesma. E falei, e despejei, e escancarei, e vomitei, e ruminei. Sou pensadora. Sou provocadora... é da minha natureza questionadora e inquieta.


Aguenta.


Vou te tirar do sério. Vou te fazer pensar. Vou te fazer ferver em diferentes graus. Mas, guenta. Tô aqui! Não irá doer nada. Minto. Dói sim.



Diga quando não gostar. Revide.




 Ou... Fique em paz.


E principalmente, me deixEmpaz.



 


Beijoardidonabochecha.

Minhas Vogais e Consoantes são Altamente Inflamáveis e Ardidas