Vi ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem. (Bandeira, M)
Queridos e raríssimos leitores, sinto ao ler essa poesia uma compreensão fraternal do mundo, não isenta de melancolia e crítica. Ela deve contribuir como um grito de alerta, já que, na sociedade há pessoas que vivem do lixo e no lixo. Bandeira observava as pessoas da janela de sua casa na Lapa, porque a doença às vezes o impedia de sair. O dia-a-dia desperta uma completa revolução literária. Há uma forte tendência de valorizar a discussão dos problemas sociais. Aníbal Machado tem razão ao dizer que: “Não sabemos o que queremos, mas sabemos discernir o que não queremos”. O que vale é a intuição do poeta. Isso Bandeira tinha no seu jeito de enxergar o mundo. As imagens citadas na poesia são tiradas da vida diária. Existe um interesse pelo social. Nesse instante observamos o quanto à poesia colabora com os estudantes ao escrever um texto, seja qual for a tipologia escolhida. Isso pode ser comprovado com o argumento de autoridade segundo Platão & Fiorin em seu livro Lições de texto: leitura e redação. Othon Garcia também indica o que ele chama de métodos de autoridade. É a citação de autores renomados. Talvez seja por isso que alguns escritores afirmam que todo texto tem intertextualidade. Só precisamos ter cuidado para não citarmos frases falsas, que não fazem parte da realidade.
Não há mais como fechar os olhos e dizer que não somos analfabetos funcionais, ou mesmo dizer que não somos excluídos socialmente.
"A gente não quer só comida..."
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