[Ao som dos lendários integrantes do R.EM
Adultos imitam outros para aprender a viver e se comportar como for conveniente; e as crianças gostam de trocar papéis: a criança preta quer ser branca e tem vergonha da mãe que é preta, enquanto a criança branca adora brincar a ser preta para se agarrar às saias da sua ama africana. A criança africana diz ser filha da patroa branca, essa que imita atrizes para conseguir um papel no teatro.
E a imitação começa.
A vida é aprendida de observar os comportamentos adequados, como escrevi um dia num texto meu que a Edna corrigiu, com amizade e fraternidade. Mais uma imitação à vida: as suas correções fizeram-me criar uma outra categoria: a conduta conveniente. A conduta adequada é pública : saber falar, dizer as palavras atraentes, usar os vocábulos aceites em sociedade, cumprimentar de mão estendida, tirar o chapéu (fui longe agora, rs), e outras. A conduta adequada é a que corresponde ao grupo de pares com os que partilhamos a vida. Falei bonito agora.
A criança distingue muito bem entre os dois tipos de comportamentos: se está com adultos, pede licença para sair da mesa antes dos adultos (nem sempre); se está com os seus pares, quem acabar primeiro é quem corre ao televisor para continuar a ver o filme que tinha começado antes do almoço. Com cortesia, solicitam se podem: bem sabe a criança que os adultos não vão dizer não, pois a seguir seria uma birra de todo tamanho que não deixava comer calmos os adultos e estaria irrequieta porque os seus nunca mais acabavam a conversa, a calma de uma comida, as histórias que a mesa eram contadas e que aos mais novos nada interessava, não entendiam e o filme era mais interessante que as histórias antigas. Exceto, é evidente, se estiverem a falar dos pequenos, deles próprios: eles mandavam calar os "grandes" e completavam o conto à sua maneira. Os adultos calavam e permitiam, em silêncio, ouvir os cumprimentos que os pequenos ofereciam a si próprios? fosse verdade ou mentira. Na boca de uma criança, aliás, quase não há mentiras, é a sua forma de ver os fatos e a sua interpretação dos mesmos; interpretação que o adulto deve entender e não acrescentar e não interpretar a realidade exposta pelos mais novos. Seria uma grave interpretação do que é educar e dar carinho.
O adulto imita a vida enquanto é pai? mãe, aceita o ideário dos pequenos e nunca diz que não é verdade o que eles contam, e vai mudando com o tempo das crianças a crescerem. A doçura dos pais é mais uma aceitação das crianças e uma prova de amor e de estima, de emotividade e de orientar a sua vida pelas carícias das palavras e da segurança a dar, confiança em si próprios, sem jamais puni-los. Se houver uma birra, faz-se ao mais novo um olhar para outro lado, ou com uma carícia, ou a ignorar a birra até esta passar. A criança imita a vida que os seus adultos ensinam com o seu próprio comportamento. Como esse dia do vôo de volta ao seu país de origem, imensas horas retidos no aeroporto ao mudar de avião e ter perdido a combinação. Os adultos, impacientes, debatiam um com o outro, perdido o imaginário de brincar aos aviões, de cantar aos bonecos, de se contarem histórias e de lembrar a praia, sumidos nas preocupações de horário e outros assuntos.
Camilly me disse uma vez que: as pessoas não se zangam, dão a mão e passeiam, mãe, você que me ensinou. E me acalmei, como bom ser humano que sou... E sem perceber, ela me imitava.
Camilly me disse uma vez que: as pessoas não se zangam, dão a mão e passeiam, mãe, você que me ensinou. E me acalmei, como bom ser humano que sou... E sem perceber, ela me imitava.
A vida é uma imitação. A criança aprende a ser feliz ao ser tratada com amor e nunca criticada pelas "macaquices" do seu comportamento. Imitação à vida é a reprodução do amor que os adultos têm entre eles e, por extensão, aos mais novos. Como acontece comigo, com minha filha, minhas sobrinhas...
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