28 de fevereiro de 2010

MENINA

Nunca consegui engolir a finitude de quem amo. Nunca sonhei com minha imortalidade. No entanto, meu amor, nosso amor pelas pessoas, deveria ter o poder de lacrá-las em um manto de proteção e vida eterna verdadeira.

Me lembrei da morte dos meus avós... Aquele ritual da perda, da dor, do velar. Perdi-me naquelas imagens, de quando perambulei pelos túmulos discretos, lápides pequenas, nomes, datas de nascimento, de morte, fotografias antigas, outras novas, flores, muitas flores. Até que achamos. E nos fizemos em silêncio.

Mesmo após esses anos, ainda me sufoca ver a falta que minha mãe sente de minha avó. É absurda. É tão visível que sinto junto a minha saudade e a dela, entrelaçadas, engasgando garganta adentro, apertando o peito com vontade. E, me colocando no lugar dela, sofri de pensar de um dia ter que suportar a perda daqueles que me colocaram nesse mundo.

Alguns dias com eles - coisa constante, mesmo nesta correria, nessa distância nem tão "distante", nessa falta de tempo – no meu mundo, em minha casa, sempre a postos. E ao voltar há pouco, me bateu um sentimento sufocante de não tê-los mais aqui comigo.

Uma saudade prematura e quase infantil perturbando minha praticidade de quem mora sozinha. 


Hoje vou dormir menina.


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Minhas Vogais e Consoantes são Altamente Inflamáveis e Ardidas