Nota: Esta "postagem" não tem direito a fotos e música.
Todos os anos…
Tento não lembrar desta data tão entusiasmante, que nem respeito, nem desrespeito. Digo, a mim mesma, que não darei presentes a não ser as sobrinhas, filhos de amigos e filha, enquanto crianças. Prometo-me não sentir o frio da desolação tocar-me a alma, andando alegre e alerta para outras coisas que não sejam as deprimentes músicas natalinas, cheias de trinados e ferrinhos, ou os enfeites coloridos de luzes, a piscar pelas ruas, árvores e fachadas de casas, por onde bonecos vermelhos fingem felizes. Recuso olhar os pinheirinhos, cobertos de neve e bonequinhos de barro (nem ao menos temos neve), ou os presépios onde adivinho uma criança nua, deitada em palhas. Nem montei, minha arvore ainda, vou montar... Eu acredito no Papai Noel, não acredito é nas pessoas. Pretendo saltar os dias da reunião familiar (mesmo por que eu sempre fico na cozinha, rs, será fácil saltar), onde se amontoam papéis e laços e sacos por entre as gargalhadas fartas dos meus irmãos. Assisto ao abandono dos despojos junto aos coletores de lixo. Vejo a ressaca das gentes, mais barrigudas e carregadas de olheiras, a fazerem adivinhar arrotos de sonhos, rabanadas e bacalhau com batatas.
E todos os anos…
No meu refúgio, existem buraquinhos traidores que deixam passar as músicas e imagens patéticas, que me fazem doer bem fundo, me tornam em outra pessoa, me obrigam a feedback ridículo. Uma ou outra vez, sou apanhada desprevenida e, por breves segundos, ouço a ladainha de uma missa, que invade a minha sala, a minha casa e me derrota em angústia.
Acabo por sucumbir agastada de tristeza ao nada sentir de diferente. Chovem as mensagens, aparecem as presebtes a lembrar a minha traumática teimosia em esquecer. Percebo que para muitos é realmente importante viver intensamente este louco festejo – o que me faz sentir ainda pior.
Algum dia…
A humanidade se lembrará de juntar todo este miserável dinheiro e dar-lhe um fim mais digno, como enviar à Unicef, à Pastoral, a qualquer instituição de solidariedade social, ou alguma ONG?
Por que raio…
Compram tantos presentes, na maioria absurdos, mesmo sabendo que em Janeiro terão de apertar o cinto e lamentar a má sorte de não serem ricos?
Jamais…
Entenderei esta data, neste comércío alucinante, este fervor e/ou fingimento.
Vou continuar a fugir!
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