16 de agosto de 2012

AUTORRESPEITO

[Ouvindo a Tulipa, aqui]



"Deslizo pelos dias, tantas comemorações, minha vida esse raio de sol que não cessa.
Já escrevi muita coisa triste, já perdi tanta coisa com resignação e até com destreza.
Agora nem me apavoro, toda dor é só um sopro em meio ao que vislumbro de possibilidades. Criatividade, eu aprendi, é inventar alternativas quando não se tinha. Onde não se via. Por enquanto, só o que tem me preocupado são as novas regras ortográficas, já que palavras compõem meus fatos, meus sonhos, minhas narrativas.
E se eram os hífens que me separavam do meu amor-próprio, tenho tudo que preciso agora: tanto autorrespeito."





Gostaria de ter escrito isso, 
que texto delicioso.

27 de julho de 2012

SÃO PAULO - MINHA CIDADE




Existem mais de cem tons de cores. Mas prefere o preto.

Cítricas?
Só quando vai à praia.
E costuma cobrir suas pernas esticadas, finas, com meias pretas.
Usa botas. Não existe mulher que se veste melhor do que as paulistas. E que saiba qual bota escolher e como andar sobre elas.
Sabe o equilíbrio entre o moderno e o convencional. Senso estético apurado. Dona do seu próprio estilo.
A paulista não anda, caminha apressada. Vem e passa. Sem balanço. Sem mar para ir atrás. Moça do corpo pálido. Saturado pela pressa. Beleza que passa sozinha.
Não faz questão de chamar atenção.
Nem tanta questão de ser gostosa, mas magra.
Sempre de dieta.
Sempre em guerra contra a balança.
Malha para se afunilar. Intensamente, pois sabe que a gastronomia da cidade é uma tentação. Massas, pizzas, doces, sorvetes, doces, nhá benta, tesão…
Academia?
Prefere pilates, que estica até o limite das juntas, quase rasga em duas.
E corre, se quer emagrecer urgentemente.
Olhando o chão, pois já tomou muitos tombos por causa das calçadas irregulares da cidade, uma anarquia de desníveis, pedras, buracos, pisos sem um padrão seguro para o seu caminhar apressado de botas, meias e pernas finas.
Rebolar?
Fora de questão.
Olha para o chão e se lembra do que esqueceu, do quanto falta, do que faz falta, do que está errado.
A garota de São Paulo é perfeccionista, gosta de estar ajustada, como as engrenagens de uma indústria. Quer a precisão da esteira de uma linha de montagem.
Passa e olha para o chão, pois pensa nas atividades, nos prazos atrasados, nos compromissos da semana, na agenda do mês.
A garota de São Paulo leva uma vida saudável. Procura comer verduras sem agrotóxico.
Leite?
Desnatado.
Carne vermelha?
Eventualmente.
Carboidrato à noite?
Nem pensar.
O pão tem que ser integral. Linhaça e aveia no café da manhã? Obrigação. Café descafeinado. Chás. Queijos brancos, magros.
Nada industrializado, a não ser a caixa de Bis, que detona algumas vezes em certos períodos, que por vezes tem o intervalo longo, mas quando se torna um vício, chora, porque algo deu errado, desembrulha e engole cada Bis, como se nele a explicação das incoerências.
Recicla o lixo.
Toma remédios para dormir. Toma excitantes para acordar. E aguentar a jornada.
Ela é ambiciosa, trabalha demais, em mais de um emprego, pensa em dez coisas ao mesmo tempo, procura conciliar a organização do lar com a de fora dele.
Ama e odeia o chefe.
Ama e odeia o trabalho.
Sabe que ele dá a independência para ser a moça que quiser, mas também tira o tempo de ser a moça que queria ser.
Metade dela sofre o descarte para a outra parte florescer.
Adora elogios.
Odeia galanteios.
Adora presentes.
Detesta insistentes.
Quer ser cortejada.
Jamais abusada.
Sorri quando assopram um elogio. Fecha a cara quando ultrapassam o limite da sua intimidade. Preserva a privacidade.
Algumas querem ser chefe. Chefiar garotos de São Paulo. O que só dispara seu conflito maior, o de agregar. Terá que dar ordens, broncas, demitir, exigir, estipular metas, cobrar eficiência. E depois sozinha em casa chora no escuro ao som de Billie Holiday. Se sente pressionada, e ela não sabe por quê. A vida não faz sentido, e ela não sabe por quê.
Chora em comerciais da TV, cerimônias de casamento, em maternidades, quando visita as amigas, no farol, quando uma criança vende bala.
A garota de São Paulo dirige bem. O problema é que se maquia enquanto fala no celular e ultrapassa um busão articulado, aproveitando a brecha entre ele e uma betoneira lotada de concreto. E se esconde no anonimato do insufilm, muda a música do MP3 e, dependendo dela, canta sozinha em voz alta, para não ouvir impropérios.
Faz tanta coisa ao mesmo tempo…
Dirige bem, mas é dispersa. Pensa em vinte coisas em dez segundos. Nunca chega a uma conclusão.
Liga para a mãe semanalmente. Troca poucas palavras com o pai. Detesta a esposa do irmão. E ama as amigas. Com quem viaja para a praia, para não ficarem um segundo em silêncio. Se o tempo não dá chances, prefere uma tarde na piscina do condomínio com as amigas do que encarar o parque lotado.
Se irrita com homens que falam de dinheiro. Se irrita com homens que contam vantagens no trabalho. Se irrita com homens grudentos, esnobes, arrumadinhos, fúteis, incultos, mal educados.
Gosta de homem interessante.
É assim que ela seleciona: os interessantes e os não.
O que é um homem interessante?
Nem se gravar o papo de seis horas na piscina com as amigas consegue-se descobrir.
Tem que ser aquele que chega e não dá bola. Mas que a repara bem antes de ir embora. Que olha como se ela fosse a mais fosforescente das mulheres. E que desse um jeito a todo custo de trocar meia dúzia de palavras e, claro, criar laços e conexões.
Mas se nada der certo, garotos, não esquentem a cabeça. A mulher de São Paulo sabe seduzir. Sabe olhar e demonstrar. Sabe chamar atenção e indicar que você foi o escolhido. Sabe sorrir, ser paciente com a sua demora, ouvir atentamente os seus devaneios e engasgos. E, quando parece tudo estar perdido, sabe dizer a hora de ir embora, como e sugerir na casa de quem.
A garota de São Paulo não enrola.
Quando não quer, deixa claro.
Quando quer, faz de tudo para acontecer.
E não tem o menor pudor de ir para a casa com você na primeira noite, preparar o café da manhã da primeira manhã, que logo, logo, ambos saberão se vai se repetir ou ser o único.
Pode deixar. Andando de volta para casa, com suas meias pretas e botas, olhando para o chão, ela pensará em você.
Tudo isso é uma generalização literária. Mas me dá licença, poeta, para uma licença poética, homenageando sem pedir licença a graça pragmática da mulher paulista.

Belíssimo texto, me vi em muitas linhas.

4 de junho de 2012

TEM CERTEZA QUE VOCÊ SÓ QUER TCHU E TCHA?!



[EU quero mais que isso, bem mais!]


Enquanto queremos só '"TCHU" e "TCHA". Foi aprovado na câmara por estes partidos PFL, PMDB, PPB, PPS, PSDB - O FIM DO 13º SALÁRIO!!!!!!!!!!


Agora só falta o senado aprovar para alteração do art. 618 da CLT. Vão nos alienando com copas, olimpíadas... Enquanto votam no congresso assuntos de nosso interesse, SEM PERCEBEMOS.

Provavelmente será votado após as eleições, é claro....

A maioria dos deputados federais que estão neste momento tentando aprovar no Senado o Fim do 13º salário, inclusive da Licença de Férias (pagas em 10 vezes) são do PFL e PSDB.

As próprias mordomias e as vergonhosas ajudas de custo de todo tipo que recebem, eles não cortam. (LEMBRE-SE O EXECUTIVO, O LEGISLATIVO E O JUDIÁRIO, CADA UM COM SEU PODER).
Conheça a cara dos safados que votaram a favor deste Projeto em todo Brasil. E que por ironia são candidatos fortes nas próximas eleições:

 01- INOCÊNCIO OLIVEIRA - PFL
 02- JOEL DE HOLLANDA - PFL
 03- JOSÉ MENDONÇA BEZERRA - PFL
 04- OSVALDO COELHO - PFL
 05- ARMANDO MONTEIRO - PMDB
 06- SALATIEL CARVALHO - PMDB
 07- PEDRO CORRÊA - PPB
 08- RICARDO FIÚZA - PPB
 09- SEVERINO CAVALCANTE - PPB
 10- CLEMENTINO COELHO - PPS
 11- CARLOS BATATA - PSDB
 12- JOÃO COLAÇO - PSDB
 13- JOSÉ MÚCIO MONTEIRO - PSDB





VOCÊ se lembra?

José Serra dará continuidade ao governo de FHC: Fernando Henrique Cardoso tentou acabar com o 13º salário, licença-maternidade e as férias seriam pagas em 10 vezes. O Presidente Lula mandou arquivar tudo.
Em 03.10.2001, o então presidente Fernando Henrique Cardoso enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei 5.483/2001. Esse projeto foi um dos inúmeros ataques que os tucanos, liderados por FHC, promoveram contra os direitos sociais e trabalhistas.
O PL 5483/2001 propunha alterar o artigo 618 da CLT: estabelecia o fim do 13. salário, da Licença Maternidade e as férias seriam pagas em 10 vezes.
O PL 5483/2001 foi aprovado, na Câmara dos Deputados, em dezembro de 2001, pelo então Governo FHC e sua base aliada (PSDB-PFL).
O PL 5483/2001 foi encaminhado, então para votação no Senado. Em 06/12/2001 o PL foi enviado ao Senado. Deveria ter sido votado em março mas a aprovação da CPMF fez com que o regime de urgência fosse cancelado.
No dia 08/05/2003 “… o Presidente Lula solicitou a retirada de tramitação deste projeto”.
No dia 16/07/2003, o PL 5.483/2001 foi encaminhado para o arquivo e no dia 16/06/2004, foi arquivado.
FHC queria acabar com o 13. salário, licença-maternidade e as férias seriam pagas em 10 vezes.


Até quando, até quandooo... Esperar?!!!

29 de maio de 2012

VOCÊ SABE COM QUEM ESTA FALANDO?

 (Ouvindo Ali, o oposto daqui.)

 

#puraironia...


Você sabe com quem está falando? Com certeza você já ouviu essa frase de alguém ou soube que alguém já a utilizou em algum lugar como quando uma pessoa é barrada na porta giratória de um banco, em um acesso controlado e etc. O quê você responderia numa situação destas?
Pra começar, devemos pensar o que seria um ser humano. Um homem ou uma mulher. Aristóteles (Séc. IV) disse que “o homem é um animal racional”. Pascoal (Séc. XVII) disse que “o homem é um caniço pensante”. Fernando Pessoa dizia que homem é um cadáver adiado. Mas o quê a ciência diz? Muito bem, vamos lá!

Pela ciência, nós estamos em um universo que possui, provavelmente pela curvatura do espaço, um formato cilíndrico surgido a 15 bilhões de anos. Até alguns anos, essa era a única teoria existente, mas hoje já não se pensa assim, hoje se acredita que o nosso universo é um dos universos possíveis que existes. Sim! A física quântica, que será dominante entre os físicos futuramente, já não trabalha com a noção de UNIverso, mas com a noção de MULTIverso. Isso pode ser verificado em livros do Marcelo Gleiser, que possui uma linguagem bem acessível para pessoas leigas no assunto como eu. Segundo a teoria inicial, nosso universo surgiu a 15 bilhões de anos quando ocorreu o famoso “Big Bang”. Que diz que toda a matéria e energia estavam concentradas em um único ponto, como uma mola encolhida amarrada a um barbante e que foi solta.

Nosso universo ainda está em um processo de expansão, mas acredita-se que quando chegar ao ápice ele iniciará o seu processo de recolhimento da matéria semelhante ao processo sistólico-diastólico já trabalhado por diversas filosofias orientais e comuns em nosso cotidiano. Mas não se preocupe, porque o processo de recolhimento se inicia daqui uns 12 bilhões de anos.

Portanto, a 15 bilhões de anos, o universo entrou em expansão jogando matéria e energia por todos os lados deixando um rastro de planetas e estrelas em toda a sua extensão. Essas estrelas se agruparam no que chamamos de galáxias. Existem cerca de 200 bilhões de galáxias no universo. Uma dessas galáxias é a nossa via láctea, que possui cerca de 100 bilhões de estrelas e uma delas é o nosso Sol (estrela-anã). Girando ao seu redor, existem oito planetas sem luz própria e a terceira mais próxima a ela é a Terra.

Na Terra há o que chamamos de vida com 3 milhões de espécies já classificadas, entre elas está o ser humano (homo-sapiens). Entre os humanos, existem 7 bilhões de indivíduos no mundo e um deles é você!

Portanto, quem és tu? Tu és um indivíduo entre sete bilhões que compõe uma única espécie entre outros três milhões existentes em um planetinha que gira ao redor de uma estrelinha, que compõe uma galáxia com 100 bilhões de estrelas, que é uma entre 200 bilhões de galáxias em um dos universos possíveis e que irá desaparecer.

Portanto, quem é você para achar que o único modo de fazer as coisas é o seu? Quem sou eu para achar que a única ideia adequada é a minha? Quem somos nós para achar que o único lugar bom é onde nascemos? Quem é você para achar que a única religião correta é a que você pratica?
Quem sou eu? Quem é você?

Por isso, todas as vezes que alguém lhe perguntar com quem você está falando, responda: Você tem um tempo?


*Baseado em um trecho da palestra do professor Mário Cortella.

VIVER SEM TEMPOS MORTOS

Quando ouvi aquela frase da peça, ouvi também um estalo tão alto, que meu pensamento foi até o meu último ano de filosofia, onde meu mestre Mário entregou uma apostila para meu grupo e disse (re)flitam, não compreendi. Hoje, passados cinco anos ENTENDI - Estou vivendo sem TEMPOS MORTOS - amém.

Assistindo a peça, que foi inspirada em cartas e em apontamentos autobiográficos da filósofa Simone Beauvoir, e em cena o único elemento cenográfico é uma cadeira preta, aonde Simone (Fernada Montenegro) senta-se e em primeira pessoa passa a contar seus importantes momentos de sua tragetória em Viver sem Tempos Mortos.





Passava um pouco das 21 horas quando, naquela segunda-feira do dia 28 do mês de maio, Fernanda Montenegro disse as últimas frases do monólogo Viver sem Tempos Mortos. Emocionada, apaixonada, enternecida e agradecida... Aplaudi de pé.


Ela parece contar, enquanto incorpora a filósofa e escritora parisiense, ícone do feminismo e parceira de outro célebre filósofo, o existencialista Jean-Paul Sartre. Na mais despojada produção que estrelou em seis décadas de carreira, Fernanda vira Simone sem lançar mão de elementos que remetam fisicamente à personagem. Não há sotaque, não há trejeitos característicos, não há nem mesmo um figurino afrancesado. Com uma camisa social branca e uma calça preta, a atriz senta-se numa cadeira igualmente preta, único objeto em cena, e permanece lá durante toda a montagem, sob um persistente foco de luz. Narra, então, os principais momentos da intensa trajetória de Simone. Fala sempre na primeira pessoa, usando depoimentos da própria romancista, extraídos de livros e cartas.

Ao terminar a peça, uma pessoa grita: Obrigada, Fernanada! 

Esta pessoa era eu. Esta pessoa éramos TODOS nós.

ADULTÉRIO - A PEÇA


Sei la, não gosto desta palavra. Ela é tão suja. Me fez lembrar de quando postei ali o meu asco por esta palavra carregada de nada.

Mas tudo passa... TUDO PASSARA -, como dizia o poeta. Palavra suja, tem mesmo é que ser lavada. Então lavei.



MAS ---, esta peça de Woody Allen, diz que ele já cometeu adultério ao menos uma vez na vida e a história é das mais conhecidas. Em 1992, Mia Farrow, então a mulher do cineasta, descobriu fotos que ele havia tirado da filha adotiva dela, Soon-Yi, nua. O escândalo foi enorme e a opinião pública ficou do lado de Mia Farrow. Pior para a carreira de Allen, que perdeu bilheteria nos EUA e só agora, depois de Meia-Noite em Paris (2011) --e de 15 anos de casamento com Soon-Yi--, parece voltar às boas com os americanos.
Mas bem antes de tudo isso, a traição entre cônjuges já era tema recorrente nos filmes de Allen. Neles quase sempre há um personagem que pula a cerca, e tanto os adúlteros quanto os amantes parecem exercer grande fascínio sobre o diretor.
O cineasta já abordou a infidelidade de diferentes formas entre o cômico e o dramático. Mostrado com leveza em Alice (1990), o adultério é um mal que vem para o bem à dona-de-casa endinheirada e entediada vivida por Mia Farrow: será um caso extraconjugal (e infeliz) com Joe Mantegna que levará a protagonista a mudar radicalmente de vida e enfim achar seu lugar no mundo.
O mesmo tema pode levar a reflexões mais profundas, como em Crimes e Pecados (1989), em que Martin Landau resolve dar um fim na amante, Anjelica Huston. Há ainda Manhattan (1979), Hannah e Suas Irmãs (1986), Maridos e Esposas (1992), Poderosa Afrodite (1995), Match Point (2005)... Todos esses filmes têm em comum um personagem infiel.
Na mistura de drama e comédia que é Adultérios, a montagem brasileira de Central Park West, de Woody Allen, o adúltero é Jim, um escritor que acabou de ter um roteiro transformado em filme em Hollywood. Numa noite em que aguarda a amante para o encontro que deve pôr um ponto final na relação, ele conhece Fred, um sem-teto louco e inteligente que o acusa de ter roubado suas ideias para o roteiro do filme.
A relação entre os dois começa pouco amistosa, mas conversa vai, conversa vem, aparece enfim a amante (Carol Mariottini), nada dócil, e que acaba dando espaço para que surja um elo entre os dois homens. No ano passado, Fábio Assunção e Norival Rizzo chegaram a se revezar nos papéis de mendigo e escritor entre uma sessão e outra do espetáculo, sugerindo que os dois personagens são basicamente a mesma pessoa --aliás, o final da peça também é por aí (mas calma, isso não chega a ser um spoiler).



Norival Rizzo interpretava o escritor Jim, e Fábio Assunção dava vida ao sem-teto Fred. Embora as duas atuações fossem caprichadas, claro que não é pelo sujeito pacato e certinho, e sim pelo mendigo psicopata e divertido, que a plateia se derrete. Com mania de grandeza e de perseguição, mas sendo o personagem mais honesto da peça, é o homeless quem cativa o público. E Fábio Assunção mandava muito bem nas entonações e gestos de Fred --que diz receber sinais elétricos e instruções vindas do topo do Empire State.

Adultérios
tem como cenário apenas dois banquinhos e estruturas de madeira que representam algum lugar nas margens do rio Hudson, em Nova York --"provavelmente entre as ruas 70 e 80 Oeste", diz o texto de Allen. Embora a história se passe nos EUA e traga algumas referências e nomes que não dizem nada para quem não é de lá, o espectador brasileiro não sai perdendo, já que o que importa mesmo é o que os personagens têm de mais universal, em especial suas fraquezas. E a peça só melhora ao longo dos 60 minutos de duração, com boas piadas e muito da classe que sempre há no trabalho de Allen.



Sinopse extraída do R7.

 

28 de abril de 2012

CRUEL


[Ouvindo aqui a música gostosa de Sergio Sampaio]






Sinopse da Peça




O texto tem mais de 100 anos, e ainda sim tão atual é uma mistura de drama e suspense.

Entre outras, as características dos personagens mesclam ingenuidade, manipulação, egocentrismo e soberba.

A história traz relações de amor e amizade, ódio e paixão, volúpia e desconfiança, entre outros sentimentos inerentes à
natureza humana.




Movido pelo sentimento de vingança, Gustavo (Reynaldo Gianecchini) é o vetor da história.
Muito perspicaz e orgulhoso, ele desenha os acontecimentos e os conduz à direção em que premedita.

Adolfo (Erik Marmo) é um pintor inseguro, facilmente manipulado, mas sutilmente forte. Casado com Tekla, (Maria Manoella), uma bonita, sedutora e sagaz escritora, cai na armadilha do egocêntrico e cruel Gustavo, ex-marido de Tekla.

Ela, objeto de desejo dos dois (de formas diferentes), apesar de sua frieza e inteligência, é vitimada pela articulação mal intencionada de Gustavo.

No palco, mais do que ações e gestos, as mentes se enfrentam. A mais ardilosa vence a batalha. A mais ingênua perde a guerra, pois é considerada frágil e destrutível.


Com isso, é deflagrada uma corrente de forças, em que os personagens tentam ser vencedores de seus próprios conflitos. 
   
                         
Cruel é, também, um xeque-mate a instituição do casamento.







O teatro é pura magia, é um espetáculo em que todos DEVERIAM ter acessibilidade. Sou salva da ignorância todo vez que assisto à uma peça. Desejo que todos sejam salvos da caixinha manipuladora de sonhos e vontades.

26 de abril de 2012

SEM PENSAR



Com plateia nas tampas, peça de Anya Reiss, dramaturga de apenas 20 anos, que marca a primeira direção teatral do cineasta Luiz Villaça. Denise Fraga está à frente do elenco, que conta ainda com Kiko Marques, Júlia Novaes, Kauê Telloli e Virgínia Buckowski nos papéis centrais.
O que poderia ser uma virtude — escrever uma peça aos 17 anos —, no meu entender, é um mero exercício adolescente. Uma garota com menos de 20 anos não tem vivência (não se pode exigir isso dela) e muito menos experiência de uma relação amorosa.
No entanto, é exatamente isso que Anya Reiss, nascida em Londres em 1991, faz em Spur of the Moment, traduzida aqui por Sem Pensar. Aos 17 anos ela escreveu esse texto, que relata o final de semana em que Delilah (Júlia Novaes) completará 13 anos. Ao lado das brincadeiras de suas três amigas, a menina assiste a verdadeiros rounds de luta verbal entre seus pais, ao mesmo tempo em que se apaixona por Daniel (Kauê Telloli), um rapaz que aluga um quarto de sua casa. O casal Vicky e Nick (Denise e Kiko) não consegue superar uma traição cometida pelo marido e as brigas são constantes; eles nem percebem que a filha vive um momento especial: além de deixar o mundo infantil, Delilah vive seu primeiro amor, mas não se dá conta que a diferença de idade entre ela e o rapaz pode causar problemas sérios.
Com um cenário criativo de Valdy Lopes (o sobrado em recorte vertical não tem paredes, apenas caibros delimitando os espaços), a trama não aprofunda as questões apresentadas. Se a intenção da autora era fazer uma crítica à estrutura familiar, o público sai frustrado do espetáculo, pois a discussão restringe-se à superfície: a crise conjugal não dá sinais de término e o drama de Daniel (ter se envolvido com uma garota de 13 anos) parece que é vivido só pelo personagem, não se materializa.
A iniciativa de Luiz Villaça em partir para a direção teatral é válida, pena que sua estreia se dá com um texto despretensioso e raso. Já Denise Fraga, uma das grandes atrizes de sua geração, que sabe muito bem modular comédia e drama, tem a árdua tarefa de dar vida a uma destemperada mulher traída e insensível. Tanto talento desperdiçado a um personagem menor.



 


Texto delicioso e com uma devolutiva sensacional após á peça.

25 de abril de 2012

PROVOCADORA... EU?




[Ouvindo Ali e desejando com toda a força que as coisas mudem.]






Ontem assisti a peça a Voz do Provocador, com Antonio Abumjamra (Maravilhoso) e  percebi, que não provoco, sou provocada. Provocação esta na coisificação do homem, banalização, mediocridade. Simples assim -, Provoco o tempo todo, porque sou constantemente provocada.

Não gosto e não compactuo com esta atrocidade vestida de diversão disfarçada. A Tv e a imbecilidade de alguns programas, feitos para nos programar e idiotizar a massa, massacrada: Nos provocando, nos alienando, nos programando para aceitar brincadeiras estúpidas e ridículas. E ainda há pessoas que se divertem com isso.

Falta de Educação é píada, e é aceita e Festejada. Como somos ridículos!



Postarei um artigo escrito pelo ator Wagner Moura, sobre a imbecilidade do Pânico na tv. Leia.


"EU PRESTO ATENÇÃO NO QUE ELES DIZEM, MAIS ELES NÃO DIZEM NADA."




 “Quando estava saindo da cerimônia de entrega do prêmio APCA, há duas semanas em São Paulo, fui abordado por um rapaz meio abobalhado. Ele disse que me amava, chegou a me dar um beijo no rosto e pediu uma entrevista para seu programa de TV no interior. Mesmo estando com o táxi de porta aberta me esperando, achei que seria rude sair andando e negar a entrevista, que de alguma forma poderia ajudar o cara, sei lá, eu sou da época da gentileza, do muito obrigado e do por favor, acredito no ser humano e ainda sou canceriano e baiano, ou seja, um babaca total. Ele me perguntou uma ou duas bobagens, e eu respondi, quando, de repente, apareceu outro apresentador do programa com a mão melecada de gel, passou na minha cabeça e ficou olhando para a câmera rindo. Foi tão surreal que no começo eu não acreditei, depois fui percebendo que estava fazendo parte de um programa de TV, desses que sacaneiam as pessoas. Na hora eu pensei, como qualquer homem que sofre uma agressão, em enfiar a porrada no garoto, mas imediatamente entendi que era isso mesmo que ele queria, e aí bateu uma profunda tristeza com a condição humana, e tudo que consegui foi suspirar algo tipo “que coisa horrível” (o horror, o horror), virar as costas e entrar no carro. Mesmo assim fui perseguido por eles. Não satisfeito, o rapaz abriu a porta do táxi depois que eu entrei, eu tentei fechar de novo, e ele colocou a perna, uma coisa horrorosa, violenta mesmo. Tive vontade de dizer: cara, cê tá louco, me respeita, eu sou um pai de família! Mas fiquei quieto, tipo assalto, em que reagir é pior.


” O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice ”


O táxi foi embora. No caminho, eu pensava no fundo do poço em que chegamos. Meu Deus, será que alguém realmente acha que jogar meleca nos outros é engraçado? Qual será o próximo passo? Tacar cocô nas pessoas? Atingir os incautos com pedaços de pau para o deleite sorridente do telespectador? Compartilho minha indignação porque sei que ela diz respeito a muitos; pessoas públicas ou anônimas, que não compactuam com esse circo de horrores que faz, por exemplo, com que uma emissora de TV passe o dia INTEIRO mostrando imagens da menina Isabella. Estamos nos bestializando, nos idiotizando. O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice. Amigos, a mediocridade é amiga da barbárie! E a coisa tá feia.


” Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência ”


Digo isso com a consciência de quem nunca jogou o jogo bobo da celebridade. Não sou celebridade de nada, sou ator. Entendo que apareço na TV das pessoas e gosto quando alguém vem dizer que curte meu trabalho, assim como deve gostar o jornalista, o médico ou o carpinteiro que ouve um elogio. Gosto de ser conhecido pelo que faço, mas não suporto falta de educação. O preço da fama? Não engulo essa. Tive pai e mãe. Tinham pais esses paparazzi que mataram a princesa Diana? É jornalismo isso? Aliás, dá para ter respeito por um sujeito que fica escondido atrás de uma árvore para fotografar uma criança no parquinho? Dois deles perseguiram uma amiga atriz, grávida de oito meses, por dois quarteirões. Ela passou mal, e os caras continuaram fotografando. Perseguir uma grávida? Ah, mas tá reclamando de quê? Não é famoso? Então agüenta! O que que é isso, gente? Du Moscovis e Lázaro (Ramos) também já escreveram sobre o assunto, e eu acho que tem, sim, que haver alguma reação por parte dos que não estão a fim de alimentar essa palhaçada. Existe, sim, gente inteligente que não dá a mínima para as fofocas das revistas e as baixarias dos programas de TV. Existe, sim, gente que tem outros valores, como meus amigos do MHuD (Movimento Humanos Direitos), que estão preocupados é em combater o trabalho escravo, a prostituição infantil, a violência agrária, os grandes latifúndios, o aquecimento global e a corrupção. Fazer algo de útil com essa vida efêmera, sem nunca abrir mão do bom humor. Há, sim, gente que pensa diferente. E exigimos, no mínimo, não sermos melecados.


No dia seguinte, o rapaz do programa mandou um e-mail para o escritório que me agencia se desculpando por, segundo suas palavras, a “cagada” que havia feito. Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência. E contra a audiência não há argumentos. Será?"



Genteee, acorda... Alguma coisa esta fora da ordem!

19 de abril de 2012

HELL

Ouvindo esta ópera linda, alí .


 
Quando li este livro. Fiquei LOKA. Depois de muito tempo veio a peça. Resultado. Surtei. Não teve jeito. Fui



 O que a gente chama de amor é apenas o álibi consolador da união de um perverso com uma puta, é somente o véu rosado que cobre o rosto assustador da solidão invencível.




Nós procuramos o amor e achamos que o encontramos. Depois vem a queda. De muito alto. É melhor cair do que ficar sempre no chão?






Dizer baboseira neste mundo onde todo mundo tem pensamentos profundos é a única maneira de provar que a gente tem um pensamento livre e independente!



Neste mundo de milhões de seres, relativamente normais, de forma que bastante feios e estúpidos, como quer a norma, eles reivindicam seu direito de mostrar sua feiura e sua estupidez à milhões de outros seres estúpidos e feios, ignorando que a tela é na verdade, um espelho.

'Ela queria se sujar, tinha necessidade disso, mas isso lhe era mortal. '





“Amor, isto é tudo que a gente encontrou para alienar a depressão pós-cópula, para justificar a fornicação, para consolidar o orgasmo. Ele é a quintessência do belo, do bem, do verdadeiro, que remodela a sua cara escrota, que sublima a sua existência mesquinha. Bom, eu, eu o rejeito. Meu coração é castrado.”


' Eu a amo... O tempo todo, sempre, a ponto de morrer. Eu a amo adormecida ou deprimida, eu a amo cheirada, embrutecida, degradada. Ela conseguia, não sei como, permanecer tão pura nas situações as mais degradantes, que me dava vontade de me ajoelhar na frente dela. '







A felicidade é uma ilusão de ótica, dois espelhos que refletem entre si a mesma imagem do infinito. Nem tente buscar a imagem original, não existe nenhuma.
Não diga que a felicidade é efêmera. A felicidade não é efêmera. O sentimento que se sente e é tomado como felicidade quando se está apaixonado, quando se teve sucesso em alguma coisa, é uma liberdade condicional antes de conhecer a pena: o ser amado não se parece com nada, o que você conseguiu não serve pra nada. Isso não a faz infeliz, mas consciente. A felicidade não acaba, ela se retifica.
Nós inventamos a luz para negar a escuridão. Colocamos as estrelas no céu, plantamos postes a cada dois metros nas ruas. E lâmpadas dentro de nossas casas. Apague as estrelas e conteple o céu. O que você vê? Nada. Você está diante do infinito que seu espírito limitado é incapaz de conceber, de forma que você nada mais enxerga. E isso o angustia. É angustiante estar diante do infinito. Fique calmo; os seus olhos sempre encontrarão as estrelas obstruindo a trajetória deles e não irão mais longe. De forma que o vazio dissimulado por elas será ignorado por você. Apague a luz e arregale os olhos ao máximo. Você nada verá. Apenas a escuridão, a qual é mais percebida do que vista por você. A escuridão não está fora de você, ela está em você.


"Pratico e louvo o hedonismo mundano, ele me poupa. ele me poupa das euforias grotescas do primeiro beijo, do primeiro telefonema, de escutar uma dúzia de vezes um simples recado, de tomar um café, uma bebida: as reminiscências da infâncias, os amigos comuns, as férias na côte d'azur, seguidas de um jantar: os escritores prediletos, o mal-estar de viver, o porquê de sair todas as noites, a primeira noite, seguida de outras mis, não ter mais nada o que dizer..."





"ele não responde, joga o casaco sobre meus ombros e me aperta nos seus braços. ele me beija na testa. uma lágrima rola na minha face, seguida de outra. não consigo mais me segurar, é o excesso de emoções contraditórias que ferviam dentro de mim e que transborda sem que eu possa fazer alguma coisa. VIVI DEMAIS CEDO DEMIAS, E POR DEMAIS SOLITÁRIA. eu não mereço que cuidem de mim. fico sem entender. não preciso de ninguém."




Detestei minha vida. Quero viver outras!

Possuo duas armas infalíveis para exercer mi­nha arte, a primeira é a minha inquestionável superioridade, física, intelectual, financeira e social, que arrasa totalmente meu adversário e me torna invulnerável a qualquer tipo de ata­que, a segunda é que estou pouco me lixando para tudo e não tenho vergonha de nada"



Isso é Hell, isso é Lolita Pille. Assistam a peça, mais por favor, leiam o livro. Eu recomendo.

14 de abril de 2012

O IDIOTA



O Idiota é uma das obras-primas do autor russo Fiódor Dostoiévski, considerado o criador do movimento existencialista. Ele gerou este livro na cidade de Florença, entre 1867 e 1868, ao longo de quatro meses. Na gestação deste romance o escritor foi profundamente influenciado pela clássica novela de Cervantes, Dom Quixote. Há várias semelhanças entre o herói espanhol e o príncipe russo Míchkin.

Publicado em 1869, este volume perturbador foi, na época, sucesso de crítica. Nele Dostoiévski narra a história de um príncipe herdeiro que, por alguns anos, permanece na Suíça para se recuperar de uma enfermidade conhecida como idiotia. Ao se considerar curado ele retorna para reivindicar o trono da Rússia.
Nesta mesma ocasião ele conhece a inconstante e imprevisível Aglaia, uma das filhas do casal Epantchiná, com quem ele tem remoto parentesco, e passa a nutrir pela jovem uma profunda afeição. O príncipe, que também é epilético, é a encarnação da bondade, da sinceridade, da fantasia e da inocência, qualidades que muitas vezes são confundidas com patetice e estupidez.
Na verdade, porém, Míchkin é mais perceptivo, sagaz e inteligente que muitos daqueles que o injuriam e perseguem. Ele tem o poder de vislumbrar o interior das pessoas, de conhecer a essência dos que o cercam. Assim, o príncipe conhece muito bem cada ser a sua volta, embora ninguém sequer desconfie disso.
O protagonista deste romance, além de ser o último de sua linhagem familiar, parece também ser o único remanescente de uma Rússia mais verdadeira e correta, idealizada, de certa forma, pelo autor. Desencantado com seu país, ele retrata nas páginas desta obra momentos intensos e terríveis.
Sucedem-se convulsivamente episódios nos quais o dote combinado em uma transação de noivado é queimado em uma lareira; uma crise convulsiva no meio da escada de um hotel causa profunda confusão; uma mal sucedida cena de suicídio se desenrola publicamente; um homicídio inesperado choca os leitores. São atos dramáticos como estes que compõem O Idiota.
E, como sempre nas criações de Dostoiévski, estão presentes questões que assombram sua existência, tais como os surtos convulsivos, a crise financeira e o vício nos jogos. Ele também enfoca, na tentativa de resgate o passado de sua terra natal, as problemáticas do nacionalismo típico da Rússia e da religião católica na região eslava.
O escritor russo recheia sua obra com profundas interpretações de natureza psicológica, narrativas inquietantes e humor inteligente. Sua visão de mundo e seus ideais permeiam cada página de O Idiota, bem como os lances de sua própria existência, como a epilepsia que o assediou por toda a vida e as mulheres que ele amou.


Algumas fotos desta peça incrível e indiscritível...



AGLAIA E NASTASSIA no Trepa-Trepa 



AGLAIA E MICHKIN o Banco Verde





CRISTO VIVO de Hans Holbein Casa do Irmão



 

 
RAGOJAN E MICHKIN Casa do Irmão
 



 
NINA Casa do Pai 




 
NASTASSIA, MICHKIN e ALGAIA Trepa Trepa
 



 
LHEBEDIEV e MICHKIN A Besta do Apocalipse
 


 


NASTASSIA, NINA, GANIA, Gen. IVOLGUIN, KOLIA, MICHKIN e FIERDICHENKA Casa do Pai 






MICHKIN e NASTASSIA





 
AGLAIA e Gen. Ivolguin Olhos nos Olhos 


Mais fotos? Clica aqui.

2 de abril de 2012

SIMPLES ASSIM...


     (Estou fazendo uso deste remedinho sim!)






Só pensei nesta música aqui






Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua.

"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não''! E tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade ''Não, absolutamente não!'' O substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porranenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".

Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do ''foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta.". Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!".

O direito ao ''foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e FODA-SE.



CRÔNICA DO PALAVRÃO - Millôr  Fernandes




Minhas Vogais e Consoantes são Altamente Inflamáveis e Ardidas