29 de maio de 2012

ADULTÉRIO - A PEÇA


Sei la, não gosto desta palavra. Ela é tão suja. Me fez lembrar de quando postei ali o meu asco por esta palavra carregada de nada.

Mas tudo passa... TUDO PASSARA -, como dizia o poeta. Palavra suja, tem mesmo é que ser lavada. Então lavei.



MAS ---, esta peça de Woody Allen, diz que ele já cometeu adultério ao menos uma vez na vida e a história é das mais conhecidas. Em 1992, Mia Farrow, então a mulher do cineasta, descobriu fotos que ele havia tirado da filha adotiva dela, Soon-Yi, nua. O escândalo foi enorme e a opinião pública ficou do lado de Mia Farrow. Pior para a carreira de Allen, que perdeu bilheteria nos EUA e só agora, depois de Meia-Noite em Paris (2011) --e de 15 anos de casamento com Soon-Yi--, parece voltar às boas com os americanos.
Mas bem antes de tudo isso, a traição entre cônjuges já era tema recorrente nos filmes de Allen. Neles quase sempre há um personagem que pula a cerca, e tanto os adúlteros quanto os amantes parecem exercer grande fascínio sobre o diretor.
O cineasta já abordou a infidelidade de diferentes formas entre o cômico e o dramático. Mostrado com leveza em Alice (1990), o adultério é um mal que vem para o bem à dona-de-casa endinheirada e entediada vivida por Mia Farrow: será um caso extraconjugal (e infeliz) com Joe Mantegna que levará a protagonista a mudar radicalmente de vida e enfim achar seu lugar no mundo.
O mesmo tema pode levar a reflexões mais profundas, como em Crimes e Pecados (1989), em que Martin Landau resolve dar um fim na amante, Anjelica Huston. Há ainda Manhattan (1979), Hannah e Suas Irmãs (1986), Maridos e Esposas (1992), Poderosa Afrodite (1995), Match Point (2005)... Todos esses filmes têm em comum um personagem infiel.
Na mistura de drama e comédia que é Adultérios, a montagem brasileira de Central Park West, de Woody Allen, o adúltero é Jim, um escritor que acabou de ter um roteiro transformado em filme em Hollywood. Numa noite em que aguarda a amante para o encontro que deve pôr um ponto final na relação, ele conhece Fred, um sem-teto louco e inteligente que o acusa de ter roubado suas ideias para o roteiro do filme.
A relação entre os dois começa pouco amistosa, mas conversa vai, conversa vem, aparece enfim a amante (Carol Mariottini), nada dócil, e que acaba dando espaço para que surja um elo entre os dois homens. No ano passado, Fábio Assunção e Norival Rizzo chegaram a se revezar nos papéis de mendigo e escritor entre uma sessão e outra do espetáculo, sugerindo que os dois personagens são basicamente a mesma pessoa --aliás, o final da peça também é por aí (mas calma, isso não chega a ser um spoiler).



Norival Rizzo interpretava o escritor Jim, e Fábio Assunção dava vida ao sem-teto Fred. Embora as duas atuações fossem caprichadas, claro que não é pelo sujeito pacato e certinho, e sim pelo mendigo psicopata e divertido, que a plateia se derrete. Com mania de grandeza e de perseguição, mas sendo o personagem mais honesto da peça, é o homeless quem cativa o público. E Fábio Assunção mandava muito bem nas entonações e gestos de Fred --que diz receber sinais elétricos e instruções vindas do topo do Empire State.

Adultérios
tem como cenário apenas dois banquinhos e estruturas de madeira que representam algum lugar nas margens do rio Hudson, em Nova York --"provavelmente entre as ruas 70 e 80 Oeste", diz o texto de Allen. Embora a história se passe nos EUA e traga algumas referências e nomes que não dizem nada para quem não é de lá, o espectador brasileiro não sai perdendo, já que o que importa mesmo é o que os personagens têm de mais universal, em especial suas fraquezas. E a peça só melhora ao longo dos 60 minutos de duração, com boas piadas e muito da classe que sempre há no trabalho de Allen.



Sinopse extraída do R7.

 

Nenhum comentário:


Minhas Vogais e Consoantes são Altamente Inflamáveis e Ardidas