Em ir até aí e te xingar. E te beijar e te chamar de otário. Dizer que a culpa é toda sua e que eu sempre "fui sincera e você sabe muito bem". Mas eu sei que não posso nem mesmo atravessar a rua sozinha em noite de lua cheia, porque eu viro lobismulher. Essas garras não são bonitas e os caninos doem com bebida gelada, mas as mulheres do prédio fizeram um bazar e me aceitaram como atração. Isso vai me render exatos vinte reais e eu os colocarei em uma conta que tenho em Mirassolândia, cidade natal de não sei quem. Com essa história de ter virado lobismulher minha vida ficou um bocado delicada. Não posso ser contrariada, o que é praticamente impossível em um mundo de imbecis que bebem água benta de velório. O meu, no caso. Mas a morte me caiu muito bem. E essa volta ao lar em forma de lobismulher me deu um ar misterioso. Uma boa, pra quem não tinha ar nenhum. Tenho tido febre, única coisa decente nesse império de preços baixos em que passei a viver. E no império à prestação, as mulheres que não mentem são convertidas em mulheres-cães. Se não fosse a ironia (recurso babaca, de gente babaca) eu diria que ser lobismulher é a melhor coisa que me aconteceu. Mas é mentira. Ser lobismulher é só o que de mais recente me aconteceu. E mesmo isso, já faz tanto tempo, que em dois meses será tido como crime perfeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário