17 de outubro de 2009

A VOCÊS, EU DEIXO O SONO...


O sonho, não!

Este eu mesm(a) carrego...




 
 

 
Assim era Leminski, ácido, irônico, bem humorado e do avesso.
(Qualquer semelhança é mera coincidência)







Falando sobre a Linguagem, de uma forma assim como ele, apaixonante...


(Eu tenho o acervo, léro, léro, lérooo!)


Filho de um polonês e uma negra brasileira, o curitibano Paulo Leminski foi um dos melhores poetas da nossa geração. Falava inglês, francês, japonês e latim, era faixa preta de judô, um doidão que amava bares e botecos e traduziu James Joyce, Samuel Beckett e John Lennon para os brasileiros.


Foi parceiro de Gilberto Gil e Caetano Veloso deixando uma vasta obra musical e poética e só viveu 45 anos.








Em algum muro de Curitiba...







(Erupção)
(Ardido)
(pl)









TUDO SOLTO - AVULSO MESMO...
 (Explosão)



SE

se
nem
for
terra
se
trans
for
mar...




"Não Fosse Isso
e era Menos,
Não Fosse Tanto
e era Quase..."




"tudo claro
ainda não era o dia
era apenas o raio"

[do livro Distraídos Venceremos]



Tudo o que eu faço
alguém em mim que eu desprezo
sempre acha o máximo.
Mal rabisco,
não dá mais para mudar nada.
Já é um clássico.

[do livro Distraídos Venceremos]




"A maldição de pensar fez suas vítimas:
em minha geração,
vi muitos poetas se transformarem em críticos,
teóricos, professores de literatura"




rio do mistério
que seria de mim
se me levassem a sério?

[do livro Distraídos Venceremos]




Deixei alguém nesta sala
que muito se distinguia
de alguém que ninguém se chamava,
quando eu desaparecia.
Comigo se assemelhava,
mas só na superfície.
Bem lá no fundo, eu, palavra,
não passava de um pastiche.
Uns restos, uns traços, um dia,
meus tios, minhas mães e meus pais
me chamarem de volta pra dentro,
eu ainda não volte jamais.
Mas ali, logo ali, nesse espaço,
lá se vai, exemplo de mim,
algo, alguém, mil pedaços,
meio início, meio a meio, sem fim.

[do livro Distraídos Venceremos]




essa a vida que eu quero,
querida
encostar na minha
a tua ferida

[do livro La Vie en Close]




não fosse isso
e era menos
não fosse tanto
e era quase




essa idéia
ninguém me tira
matéria é mentira

[do livro La Vie en Close]



esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem
 
 
 
vida e morte
amor e dúvida
dor e sorte
 
quem for louco
que volte
 
 
 
confira
tudo que respira
                      conspira
 
 
 
 
vazio agudo
ando meio
cheio de tudo
 
 
 
Enchantagem


de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo

esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima

de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito


pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito


que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar


tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade


o pau na vida
o vinagre
vinho suave


pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade
 
 
 
 
 
nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez
 
 
 
 
Leite, leitura

letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo,tudo,tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura



isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além





 
 
 
 
acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia
só não fazia sentido.
 





 
Ainda mais SoltoOo

 
 
 
Haja hoje para tanto ontem.
 

 
 
apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme
 
 
 
 
Cortinas de seda o vento entra sem pedir licença.
 
 

 
 
Viver é super difícil o mais fundo está sempre na superfície.
 
 
 
 
 
Acordei e me olhei no espelho ainda a tempo de ver meu sonho virar pesadelo.
 
 


 
Tudo dito, nada feito, fito e deito.
 
 

 
Amar é um elo entre o azul e o amarelo.
 
 
 
 
Jardim da minha amiga todo mundo feliz até a formiga
 


 
 
A estrela cadente me caiu ainda quente na palma da mão.
 

 
 
Ameixas ame-as ou deixe-as.
 

 
 
Outubro no teto passos pássaros gotas de chuva
 
 


 
Outubro no teto passos pássaros gotas de chuva
 
 
 
 
 
O mar o azul o sábado liguei pro céu mas dava sempre ocupado.
 
 
 
 
 
O mar o azul o sábado liguei pro céu mas dava sempre ocupado.
 
 
 
 
 
Aqui jaz um grande poeta. Nada deixou escrito.
Este silêncio, acredito, são suas obras completas.
 
 
 
[...]
Tenho a impressão
que já disse tudo.
E tudo foi tão de repente.
 
 
 
 
 
Um homem com uma dor é muito mais elegante caminha assim de lado como se chegasse atrasado andasse mais adiante carrega o peso da dor como se portasse medalhas uma coroa um milhão de dólares ou coisa que os valha ópios édens analgésicos não me toquem nessa dor ela é tudo que me sobra sofrer, vai ser minha última obra.
 
 
 
 
 
A vida não imita a arte. Imita um programa ruim de televisão.
 
 
 
 
pra que cara feia?
na vida ninguém paga meia
 
 
 
 
 
 
morrer
de vez em quando
é a única coisa que
me acalma...
 
 
 
 
coração
PRA CIMA
escrito em baixo
       FRÁGIL
 
 
 
 
 
sorte no jogo
azar no amor
de que me serve
sorte no amor
se o amor é um jogo
e o jogo não é meu forte,
meu amor?
 
 
 
 
Das coisas
que fiz a metro
todos saberão
quantos quilômetros
são
queles em centímetros
sentimentos mínimos
ímpetos infinitos não


Paulo Leminski. Sempre e para sempre







 
 
Tudo espalhado, tudo junto, gosto assim... simples assim!
 
 
   


Minhas Vogais e Consoantes são Altamente Inflamáveis e Ardidas