O sonho, não!
Este eu mesm(a) carrego...
Assim era Leminski, ácido, irônico, bem humorado e do avesso.
(Qualquer semelhança é mera coincidência)
Falando sobre a Linguagem, de uma forma assim como ele, apaixonante...
(Eu tenho o acervo, léro, léro, lérooo!)
Filho de um polonês e uma negra brasileira, o curitibano Paulo Leminski foi um dos melhores poetas da nossa geração. Falava inglês, francês, japonês e latim, era faixa preta de judô, um doidão que amava bares e botecos e traduziu James Joyce, Samuel Beckett e John Lennon para os brasileiros.
Foi parceiro de Gilberto Gil e Caetano Veloso deixando uma vasta obra musical e poética e só viveu 45 anos.
Em algum muro de Curitiba...
(Erupção)
(Ardido)
(pl)
TUDO SOLTO - AVULSO MESMO...
(Explosão)
SE
se
nem
for
terra
se
trans
for
mar...
"Não Fosse Isso
e era Menos,
Não Fosse Tanto
e era Quase..."
"tudo claro
ainda não era o dia
era apenas o raio"
[do livro Distraídos Venceremos]
Tudo o que eu faço
alguém em mim que eu desprezo
sempre acha o máximo.
Mal rabisco,
não dá mais para mudar nada.
Já é um clássico.
[do livro Distraídos Venceremos]
"A maldição de pensar fez suas vítimas:
em minha geração,
vi muitos poetas se transformarem em críticos,
teóricos, professores de literatura"
rio do mistério
que seria de mim
se me levassem a sério?
[do livro Distraídos Venceremos]
Deixei alguém nesta sala
que muito se distinguiade alguém que ninguém se chamava,
quando eu desaparecia.
Comigo se assemelhava,
mas só na superfície.
Bem lá no fundo, eu, palavra,
não passava de um pastiche.
Uns restos, uns traços, um dia,
meus tios, minhas mães e meus pais
me chamarem de volta pra dentro,
eu ainda não volte jamais.
Mas ali, logo ali, nesse espaço,
lá se vai, exemplo de mim,
algo, alguém, mil pedaços,
meio início, meio a meio, sem fim.
[do livro Distraídos Venceremos]
essa a vida que eu quero,
querida
encostar na minha
a tua ferida
[do livro La Vie en Close]
não fosse isso
e era menos
não fosse tanto
e era quase
essa idéia
ninguém me tira
matéria é mentira
[do livro La Vie en Close]
esta vida é uma viagem
pena eu estarsó de passagem
vida e morte
amor e dúvida
dor e sorte
quem for louco
que volte
confira
tudo que respira
conspira
vazio agudo
ando meio
cheio de tudo
Enchantagem
de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo
esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima
de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito
pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito
que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar
tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade
o pau na vida
o vinagre
vinho suave
pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade
nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez
Leite, leitura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo,tudo,tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura
isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia
só não fazia sentido.
Ainda mais SoltoOo
Haja hoje para tanto ontem.
apagar-me
diluir-medesmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme
Cortinas de seda o vento entra sem pedir licença.
Viver é super difícil o mais fundo está sempre na superfície.
Acordei e me olhei no espelho ainda a tempo de ver meu sonho virar pesadelo.
Tudo dito, nada feito, fito e deito.
Amar é um elo entre o azul e o amarelo.
Jardim da minha amiga todo mundo feliz até a formiga
A estrela cadente me caiu ainda quente na palma da mão.
Ameixas ame-as ou deixe-as.
Outubro no teto passos pássaros gotas de chuva
Outubro no teto passos pássaros gotas de chuva
O mar o azul o sábado liguei pro céu mas dava sempre ocupado.
O mar o azul o sábado liguei pro céu mas dava sempre ocupado.
Aqui jaz um grande poeta. Nada deixou escrito.
Este silêncio, acredito, são suas obras completas.
[...]
Tenho a impressãoque já disse tudo.
E tudo foi tão de repente.
Um homem com uma dor é muito mais elegante caminha assim de lado como se chegasse atrasado andasse mais adiante carrega o peso da dor como se portasse medalhas uma coroa um milhão de dólares ou coisa que os valha ópios édens analgésicos não me toquem nessa dor ela é tudo que me sobra sofrer, vai ser minha última obra.
A vida não imita a arte. Imita um programa ruim de televisão.
pra que cara feia?
na vida ninguém paga meia
morrer
de vez em quando
é a única coisa que
me acalma...
coração
PRA CIMA escrito em baixo
FRÁGIL
sorte no jogo
azar no amor
de que me serve
sorte no amor
se o amor é um jogo
e o jogo não é meu forte,
meu amor?
Das coisas
que fiz a metrotodos saberão
quantos quilômetros
são
queles em centímetros
sentimentos mínimos
ímpetos infinitos não
Paulo Leminski. Sempre e para sempre
Tudo espalhado, tudo junto, gosto assim... simples assim!